Para ampliar o debate sobre saúde mental e reafirmar o compromisso com o cuidado em liberdade, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realizou, neste sábado (24), uma ação no Parque Lagoa das Bateias em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado em 18 de maio. O evento reuniu cerca de 100 pessoas, entre profissionais da saúde, usuários dos serviços do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e a comunidade externa.

A secretária municipal de Saúde, Fernanda Maron, destacou a importância do evento para o fortalecimento das ações comunitárias voltadas ao cuidado em saúde mental. “Hoje promovemos esse movimento ao ar livre com a participação das pessoas atendidas pelos nossos serviços do Caps, incentivando a ressocialização. Contamos com uma equipe multiprofissional, o que nos permite oferecer um atendimento diferenciado, pois entendemos que saúde é o bem-estar biológico, psicológico e social”.

A programação do evento incluiu palestra, roda de conversa sobre vivências em saúde mental, massagem e diversas atividades culturais, como dança, campeonato de baleado, espaço para desenho, apresentações musicais e uma oficina de fotografia lambe-lambe.

Segundo a psicóloga Patrícia Costa, do Caps II, que atende pessoas em sofrimento mental, o serviço possui 4.168 usuários cadastrados, sendo 1.394 em tratamento ativo. “O atendimento começa com o acolhimento de pessoas a partir dos 18 anos. Em seguida, é realizada uma anamnese para compreender o caso e encaminhar o paciente à unidade do Caps mais adequada”, explica.

Participante do Caps Ad II há três anos e meio, Erivânia dos Santos relata que o acolhimento e a empatia da equipe foram fundamentais para a retomada da sua qualidade de vida. “Quando cheguei lá, estava em um momento da minha vida em que achei que seria o fim para mim. Agora, quando bate a crise de ansiedade, corro para lá, converso com eles, sou acolhida e me acalmo. Me sinto muito bem e ainda participo das aulas de educação física e karaokê”.

Já Marcos Poeta é atendido pelo Caps há 11 anos. Ele desenvolveu um quadro de depressão e ansiedade após a perda do pai e de uma prima, agravado por pressões sociais e pela timidez na juventude. No Caps, encontrou espaço para se expressar por meio da poesia. Ele já levou seus poemas a saraus e eventos em instituições como a Universidade Federal da Bahia (Ufba), a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e a Casa Azul. Entre seus trabalhos mais marcantes está o poema “Antimanicomial”, escrito em 2014, após conhecer o tema por meio de conversas com amigos.

Antimanicomial

Assim como vivemos na prisão,
queremos a liberdade
para nossa ressocialização.
Diferentes na vida,
iguais no caminho.
O preconceito se alastra,
enfrentamos meio que sozinhos.
Sofremos de abandono,
condenados a uma prisão
sem paredes, sem grades,
ver chegar a escuridão.
[…]

Se hoje estou melhor,
foi graças ao Caps, aqui.
Não vivo na loucura por opção,
sou diferenciado,
minha família não tem condição.
Não sou inválido,
só quero a reabilitação.

Rede de Atendimento

No Brasil, a reforma psiquiátrica ganhou força na década de 1970, impulsionada por movimentos sociais e denúncias de profissionais da saúde mental sobre as condições precárias dos hospitais psiquiátricos. Em 2001, a Lei nº 10.216 oficializou a mudança do modelo manicomial para o cuidado comunitário, priorizando ambulatórios, Caps e residências terapêuticas. Atualmente, a internação ocorre somente em último caso, com foco na inclusão social e no acesso a cuidados fora do hospital.

Em Vitória da Conquista, o Ambulatório Municipal de Saúde Mental realiza, em média, 1.500 atendimentos mensais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), voltados a casos leves e moderados. O acesso pode ser feito por encaminhamento das unidades de saúde ou por demanda espontânea. Na primeira visita, há uma escuta de acolhimento para identificar o tratamento mais adequado. O serviço oferece consultas psiquiátricas, psicoterapia, grupos terapêuticos, arteterapia, atendimento farmacêutico, serviço social e, quando necessário, visitas domiciliares.

Além do ambulatório, o município conta com três Centros de Atenção Psicossocial: o Caps Infantil (Caps i), voltado para crianças e adolescentes; o Caps Ad II – Djalma Vieira e Silva para atendimentos relacionados a saúde mental; e o Caps Ad III, especializado em transtornos provocados pelo uso de álcool e outras drogas.