Educação
Postado em 3 de abril de 2023 as 10:26:05
Executado pela Prefeitura de Vitória da Conquista, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Smed), o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), do Governo Federal, atende jovens com idades entre 18 e 29 anos, que sabem ler e escrever, mas que, por algum motivo, tiveram de interromper os estudos antes da conclusão do Ensino Fundamental.
No município, 110 jovens participam em suas duas modalidades – Projovem Urbano e Projovem Campo Saberes da Terra – , cujas aulas começaram em março. O turno noturno, com aulas a partir das 18h30, foi pensado de modo a facilitar o acesso para os que trabalham, tanto dentro quanto fora de casa. Na Zona Urbana, são três turmas na Escola Municipal Helena Cristália, localizada na Urbis VI, totalizando 80 alunos. Em 18 meses, eles concluem o Ensino Fundamental e seguem para um curso técnico profissionalizante na área de alimentação.
Na Zona Rural, as aulas são ofertadas a uma turma de 30 estudantes na Escola Municipal Santa Rita de Cássia, no povoado de Periperi. Nesta versão rural, o curso dura 24 meses e garante aos estudantes a iniciação num curso técnico profissionalizante na área de agricultura familiar, além do certificado de conclusão do Ensino Fundamental.

Parte de uma das turmas do Projovem Urbano, na Escola Municipal Helena Cristália
Para ter acesso ao programa, além de saber ler e escrever e de não ter concluído o Ensino Fundamental, o jovem precisa apresentar histórico escolar ou realizar teste de proficiência. No caso do Projovem Campo, é necessário que o jovem se encaixe no perfil das famílias ligadas à agricultura familiar. E, para se matricular, eles devem apresentar CPF, Carteira de Identidade e comprovante de endereço.
Segundo a coordenadora geral do Projovem, na Smed, Silvânia Araújo, os conteúdos técnicos foram pensados levando em consideração a realidade local dos estudantes. “Existem alguns cursos técnicos que já vêm pré-determinados pelo programa. Quando nós colocamos a alimentação, no Projovem Urbano, e a agricultura familiar, no Projovem Campo, foi porque houve uma demanda para isso”, explica Silvânia.

Alunos do programa aprendem sobre empreendedorismo e manutenção de alimentos
Segundo o secretário municipal de Educação, Edgard Larry, o objetivo do Governo Municipal, ao executar o programa federal, é possibilitar que essas pessoas voltem a ter objetivos que, em razão de uma série de contratempos, haviam sido momentaneamente suspensos. “A finalidade é promover ações educacionais e de cidadania voltadas a jovens excluídos do processo educacional, de modo a reduzir situações de risco, desigualdade, discriminação e outras vulnerabilidades sociais, fomentando a participação social e cidadã e favorecendo a permanência”, explica Larry.
Há em comum, entre os jovens que estudam ou que já estudaram no Projovem, o bom relacionamento com os professores que atuam no programa. “Além de trabalhar junto com as turmas durante as aulas e demais atividades presenciais, os educadores também têm horários para estudar, corrigir trabalhos, organizar visitas, reunir-se para debater, avaliar e planejar o trabalho das semanas seguintes. Há também horários de plantão e estudos complementares em que os educadores se colocam à disposição para encontros previamente agendados com alunos que precisarem de um atendimento individual”, complementa o titular da Smed.

Alane Tavares, 28 anos
Sonhos e desejos
Hoje com 28 anos, Alane Alves Tavares viu no Projovem uma forma de poder retornar aos estudos e, com isso, dar continuidade a um projeto de vida que ela teve de interromper anos atrás, quando engravidou e não pôde concluir a antiga 8ª série (hoje, 9º ano do Ensino Fundamental). “Não tive mais condições de voltar para a escola”, relembrou a estudante. “Essas coisas acabam cansando e a gente acaba perdendo o objetivo. Mas, aí, chega um certo ponto na vida em que a gente percebe o quão bom e o quão importante é voltar a estudar, porque a gente começa a ter sonhos e a acreditar que esses sonhos ainda são possíveis, apesar do casamento, da correria do dia-a-dia e dos filhos. Mas a gente é capaz de concluir, sim”, relatou.
Desde que iniciou as aulas no programa, em março, ela se orienta por um objetivo bem definido: “Quero concluir os estudos para que eu possa chegar a um curso técnico e até mesmo a uma faculdade. Meu sonho é entrar para a área de medicina”.
A gravidez também foi um impedimento para que Franciele Santos Silva, 29 anos, garantisse seu certificado de conclusão do Ensino Fundamental. “Tive que dar cuidados à criança”, explicou. Como seus filhos cresceram, ela se sentiu mais à vontade para voltar à sala de aula. “Estou achando ótimo. O ensino é excelente. Lá atrás era difícil compreender algumas coisas, mas eu estou evoluindo muito. E o Projovem está dando uma nova oportunidade na minha vida. Tenho certeza de que vou poder realizar um desejo graças ao programa”, disse a estudante, que mora na Urbis VI, mesmo bairro onde se localiza a Escola Municipal Helena Cristália.

Franciele Silva, 29 anos
‘Amor pelo que fazem’
Entre os egressos do Projovem, as impressões são invariavelmente positivas. Para Naiara Moreira, hoje com 30 anos, a passagem pelo programa foi, segundo suas próprias palavras, “um divisor de águas”. Ela concluiu essa etapa dos estudos em 2018, na Escola Municipal Professora Edivanda Maria Teixeira. “Tinha muitos anos que eu havia parado de estudar. E eu vi no programa uma oportunidade de realizar um sonho, porque, às vezes, eu ainda tinha vergonha de estar no Ensino Fundamental. Mas, graças a Deus, consegui concluir”, recordou ela, que, depois de pôr as mãos no certificado de conclusão, pôde, enfim, matricular-se no Ensino Médio.

Naiara Moreira garantiu seu certificado do Projovem em 2018
Segundo Naiara, o saldo positivo ultrapassou as questões pedagógicas ou profissionais. “Foram 18 meses de muita alegria. Cada pessoa, ali, eu podia ver no olhar deles, na forma deles de trabalhar, o amor deles por aquilo que eles estavam fazendo. Não estavam ali pelo trabalho, estavam ali pelo amor a esses jovens que, por algum motivo, pararam de estudar”, relatou a jovem.
“Espero que o programa continue por muitos e muitos anos, e que muitas pessoas possam ser alcançadas por esse trabalho que foi tão importante para mim e para outros jovens, também”, concluiu Naiara.

Cristiana Santos está entre os concluintes de 2019
‘Sou uma projoviana’
Outra que guarda boas lembranças do Projovem é Cristiana Santos, atualmente com 31 anos. Ela passou pelo programa entre 2018 e 2019, na Escola Municipal Frei Serafim do Amparo. Além de ter adquirido novos conhecimentos e garantido seu certificado de conclusão do Ensino Fundamental, ela gostou de poder levar seus dois filhos, já que o programa disponibiliza uma equipe de profissionais que cuidam das crianças enquanto seus pais e mães estão na sala de aula. “Com a sala de acolhimento, podemos apoiar a permanência e a conclusão do estudante que tem filhos ou é responsável legal por crianças de zero a oito anos, oferecendo a elas segurança e bem-estar nos horários de aula de seus pais”, explica Edgard Larry.
“Lá, na sala de acolhimento, meus dois filhos se sentiram muito bem. Todo dia que eu ia, eles queriam ir. Gostavam muito das ‘tias’, da merendeira, de todos os funcionários que deram apoio a eles”, relembrou Cristiana, que diz ter orgulho de ter passado pelo Projovem. “Sou uma projoviana, com certeza”, define-se.
Cristiana tinha deixado de estudar na antiga 3ª série (hoje, equivalente ao 4º ano do Ensino Fundamental) e queria prosseguir nos estudos. Quando voltou aos bancos escolares, não esconde que teve dificuldades inicialmente. Mas, com o apoio dos educadores, conseguiu se readaptar à rotina de estudante. Ela diz se lembrar com carinho dos conteúdos que conheceu, a exemplo de qualificação profissional, língua portuguesa, matemática, inglês, ciências humanas, ciências da natureza, entre outras disciplinas. “Foram excelentes professores. Levo todos eles sempre no coração”, agradeceu ex-aluna. “Foi uma excelente oportunidade que me abriu muitas portas”, confidenciou.