Os colegas de trabalho o consideram um verdadeiro ‘patrimônio tombado’ do serviço público municipal

Quem observar atentamente a mesa utilizada pelo servidor José Raimundo Costa Fernandes, o “Juca”, na sala ocupada por ele na Secretaria Municipal de Transparência e Controle, verá que a etiqueta de tombamento traz a numeração 0001 – o que significa que o móvel foi tombado como patrimônio público municipal há pelo menos vinte anos.

A etiqueta costuma gerar brincadeiras entre os inúmeros amigos que Juca tem na Prefeitura, que gostam de comparar a longevidade do móvel à dele próprio no serviço público municipal. Talvez eles nem imaginem, mas Juca chegou à Prefeitura antes mesmo que a incansável mesa fosse tombada. Para ser mais exato, ele foi admitido como estagiário no dia 4 de julho de 1986, na Secretaria Municipal de Administração – há quase 30 anos, portanto.

Sobre a lendária mesa, Juca mantém um velho calhamaço com quase um quilo de peso, contendo as leis municipais 421 e 422, ambas de 31 de dezembro de 1987, que se referem à reestruturação administrativa da Prefeitura e à criação do Plano de Classificação de Cargos e Salários (PCCS), respectivamente. As duas legislações sofreram alterações com o tempo – o PCCS, por exemplo, hoje se chama Plano de Cargos e Vencimentos (PCV).

Mas muito do conteúdo ali publicado ainda se mantém até hoje na legislação municipal. E isto se deve ao esforço da equipe de administradores e estagiários – estes últimos, vindos do Curso de Administração da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), do qual Juca fazia parte. Eles foram contratados pela Prefeitura na época, para ajudar a Secretaria Municipal de Administração a dar conta do trabalho de modernização da estrutura de cargos e vencimentos então existente.

Abrindo o livro, ele lê, um por um, os nomes dos integrantes da equipe que trabalhou na organização daquele conteúdo, e constata que vários deles permanecem nos quadros do serviço público municipal – inclusive ele. Com o calhamaço em mãos, Juca confirma que ele lhe dá orgulho. “Guardo isto aqui com muito carinho. Foi o primeiro trabalho que ajudei a fazer, como estagiário e como profissional. Guardo porque faz parte da nossa história”, afirma.

Choro, bumbos e pratos – Essa história começou de forma curiosa na fazenda Bezerro, na zona rural de Ibiassucê, onde Juca nasceu em 7 de setembro de 1964. O parto, conduzido por dona Virgínia, uma parteira conhecida na região, foi concluído por volta das dez horas da manhã. Os primeiros gritos de choro do recém-nascido se confundiam com o ruído dos bumbos e pratos do desfile cívico-militar que ocorria na rua central da cidade, a cinco quilômetros dali.

Juca viveu em Ibiassucê até os 14 anos, em 1979, quando toda a família se mudou para Vitória da Conquista, a fim de que os sete filhos pudessem prosseguir nos estudos. Assim, o então adolescente pôde concluir o primeiro grau, cursar o segundo e prestar vestibular – com sucesso – para o recém-criado curso de Administração da Uesb. E, a partir daí, conseguiu iniciar sua trajetória profissional – primeiro, numa financeira, e em seguida na Prefeitura, onde permanece.

‘Orientação, acompanhamento’ – Ainda na Secretaria de Administração, o servidor logo foi contratado como celetista – algo permitido nos tempos anteriores à Constituição Federal de 1988, que determinou que, a partir dali, os servidores deveriam ser contratados via concurso público. Como a nova lei não tinha efeito retroativo, servidores como Juca, contratados antes de 1988, foram efetivados, embora não dispusessem ainda de estabilidade. Esta foi finalmente garantida com a criação do Regime Jurídico Único, em 1992.

A partir da Secretaria de Administração, Juca iniciou uma trajetória pelas secretarias de Planejamento (hoje, Governo) e de Saúde, retornando à de Administração e, em seguida, seguindo para a de Transparência e Controle, na qual atua desde 2009, como assessor.

Entre várias outras atribuições, lida diariamente com questões técnicas referentes a financiamentos contraídos junto a órgãos federais. “Em todas essas atividades, temos uma participação em nível de pesquisa, orientação, acompanhamento e suporte”, explica Juca.

‘Família PMVC’ – Por todos os setores por onde passou, Juca foi amealhando uma quantidade cada vez maior de experiência profissional, diretamente proporcional ao número de amizades que foi acumulando – a ponto de se referir, hoje, ao que chama de “minha família PMVC” (iniciais de Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista), à qual ele dedica sua atenção quando não está com a outra família, esta constituída pela esposa, com quem vive há 22 anos, e pelas duas filhas, hoje com 19 e 7 anos. Os horários nos quais não está envolvido com nenhuma das duas “famílias” costuma ser dedicado ao futebol com os amigos – geralmente, duas vezes por semana.

“O que a gente faz aqui é para o povo, e não para a gente”, diz Juca, a título de constatação após quase trinta anos de serviço público municipal. É com base nessa lição, incorporada à sua rotina de trabalho, que ele mantém o objetivo que o move a cada dia: “Sonho que esta cidade continue a ser organizada e respeitada, e que o povo tenha muito orgulho dela. Que haja sempre esse mesmo cuidado com o servidor público municipal”.