Uma das novidades desta edição do Arraiá da Conquista é a presença de espetáculos teatrais no Centro Cultural Glauber Rocha, selecionados via edital público. Além de curtir o forró, o arrasta-pé, o baião e outros ritmos nos palcos, com as atrações musicais, o público também pôde ser tocado pela cultura nordestina por meio dos grupos de teatro e quadrilha.

Logo depois do show de Rege de Anagé, o Grupo de Dança Raiz do Nordeste trouxe um espetáculo com aproximadamente 20 minutos, abordando o tema “O sertão, a seca e a solidão”. Através de uma encenação entremeada por números musicais, ao som de um pout-pourri de canções nordestinas, o grupo tratou das dificuldades por que passam a maioria dos moradores em áreas semiáridas da região. Fez menção, sobretudo, à fé que auxilia os nativos a suportarem e superarem essa situação.

“A dança e o teatro estão interligados”, observou Pedro Santiago, um dos fundadores do Grupo de Dança Raiz do Nordeste, que existe desde 2012. Segundo o artista, a intenção da companhia é trazer para o público em geral um conteúdo artístico que, geralmente, fica restrito a quem frequenta os teatros.

“Por que não trazer toda a teoria do palco para uma arena aberta?”, questionou Pedro. “Nós pensamos o seguinte: o artista deve ir aonde o povo está. Por que não usar o nosso conhecimento e levar a arte até os lugares nos quais o povo não tem acesso?”, complementou.

Grupo de Teatro Apodio traz quadrilha interativa

O segundo espetáculo da noite, depois do show de Jessier Quirino, foi por conta do Grupo Teatral Apodio, formado há seis anos por moradores dos bairros Alto Maron e Cruzeiro. Desta vez, houve o que o grupo chama de “quadrilha interativa”. Antes da quadrilha propriamente dita, teve a tradicional cena de casamento na roça, mas com um diferencial: o público foi convidado a participar da cena, cujo tema central foi uma polêmica a respeito de uma possível “traição” – algo que, por certo, impediria a consumação do matrimônio caipira. Depois da cena, passou-se à quadrilha clássica, que durou cerca de meia hora.

A proposta do Grupo de Teatro Apodio é semelhante à dos colegas que formam o Raiz do Nordeste. “Nascemos com a ideia de levar o teatro para quem não pode pagar”, explicou a estudante e atriz Síria Carinhanha, uma das integrantes. O Apodio chegou a ter mais de 20 componentes e, entre 2016 e 2019, apresentou-se várias vezes no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e no Centro de Artes e Esportes Unificados J. Murilo (Praça Céus) com o espetáculo Silêncio: autoacusação.

Reduzido após a pandemia, o Apodio se apresenta no Arraiá da Conquista com o propósito de levar ao público conquistense um pouco do que seus integrantes aprenderam com ele. “Ficamos felizes, porque é a nossa cara. Somos nordestinos e a nossa vontade é ocupar um espaço que é nosso”, explicou Síria. “A sensação é de valorizarmos e devolvermos o que a gente recebeu. É muita gratidão”, concluiu.