Composto à base de capim e milho, o material é uma alternativa saudável e nutritiva para alimentar os rebanhos em períodos de estiagem

As chuvas que têm caído sobre Vitória da Conquista desde o final de 2013 trouxeram de volta o verde e, com ele, ares de fartura à zona rural do município – especialmente naqueles setores nos quais predomina o bioma caatinga. No entanto, o homem do campo sabe que a vida segue seu curso e que, a partir dos meses de setembro e outubro, o eterno círculo vicioso natural trará de volta o período de estiagem.

Wilton Ferreira

Deve o agricultor, portanto, buscar alternativas que lhe permitam prevenir-se para não passar por dificuldades durante o tempo em que predominar a escassez de chuvas. Foi isso que levou o agricultor Wilton Ferreira a recorrer ao Governo Municipal, em busca de orientações sobre formas eficazes de armazenar alimentação para seu rebanho de gado.

Agricultores trituram o capim e o milho na máquina forradeira

Em sua propriedade, localizada a 35 quilômetros do perímetro urbano, na região de Olho d’Água dos Monteiros, ele possuía uma área plantada de 200 metros quadrados, com capim de corte e milho. Queria auxílio técnico para arranjar alguma forma de aproveitar esses mantimentos sem desperdício. Aconselhado pelos técnicos da Secretaria Municipal de Agricultura, ele decidiu utilizar o material para produzir silagem, na modalidade “cincho” – aquela em que, para compactar a mistura de milho e capim, utiliza uma fôrma, semelhante a um grande anel com 1,5 metro de diâmetro.

A fôrma molda a silagem até a altura desejada

Massa compacta – O procedimento foi feito na última terça-feira, 11. Os engenheiros agrônomos João Rubens Chagas e Sálvio Gusmão, membros da equipe técnica da Secretaria Municipal de Agricultura, estiveram na propriedade para confeccionar a silagem. Wilton mobilizou agricultores da região para conhecerem de perto o procedimento.

O silo, já compactado

Inicialmente, os agricultores cortaram todo o milho e o capim, o que resultou em aproximadamente dois mil quilos de silagem. À medida que esse material era triturado numa máquina forrageira, ia sendo despejado dentro da fôrma, que tem a finalidade de moldá-lo para que adquira a forma roliça que caracteriza o silo. Enquanto isso, duas ou três pessoas o pisoteavam, a fim de acelerar a compactação. Aos poucos, os técnicos iam subindo a forma, que, por sua vez, ia recebendo mais mistura, até que atingisse a altura desejada pela equipe. Ao fim do processo, estava pronto o silo: uma massa compacta, arredondada, com 1,6 metro de altura e 1,5 de diâmetro. Com as sobras do material, o grupo confeccionou outro silo, menor, com cerca de oitenta centímetros de altura.

Depois de compactado, o silo é vedado com lona e cordas

‘Paladar agradável’ – A etapa seguinte consistiu em cobrir totalmente o silo com uma lona especial e amarrar a embalagem com cordas, a fim de diminuir ao máximo a presença do oxigênio na parte interna. É assim que os silos permanecerão até que o período de estiagem chegue, quando Wilton deverá utilizá-los para alimentar suas reses. A vedação é necessária para anular a ação da fermentação ascética, que, caso se concretizasse, reduziria os nutrientes do material e o levaria a adquirir um sabor azedo – mais ou menos como ocorre com o vinho, quando deixado em contato com o oxigênio.

Sem a presença do oxigênio, tem início a segunda etapa da fermentação interna, esta sim desejada pelos técnicos: chamada de lática, ela mantém os nutrientes do material e, de quebra, preserva-lhe o sabor – detalhe que, naturalmente, será apreciado pelo gado. “A técnica da silagem preserva esses valores nutricionais e o paladar agradável para o gado. Os animais aceitam bem, comem com voracidade”, observa Sálvio.

Cuidados – Basicamente energética, a silagem apresenta carboidratos em abundância. Por isso, para balancear a alimentação do gado, os técnicos orientaram Wilton a complementá-la com outros alimentos ricos em proteínas. Aí, o agricultor poderá recorrer a caroço de algodão, farelo de soja, folhas de algaroba ou de mandioca – neste último caso, após submetê-las previamente a um processo que lhes retire o ácido cianídrico.

Cercando seu rebanho de tais cuidados, Wilton possibilitará que os animais suportem de forma mais consistente o período de estiagem. “Agora nós estamos tendo muita comida, mas, quando chegarmos a setembro e outubro, ela diminui. E essa reserva é justamente para esses meses, que são os mais apertados”, diz o agricultor. “Só tenho a agradecer ao Governo Municipal, que se preocupa com o homem do campo e conhece todas as nossas necessidades”.

Milton Alves

Prioridade – Para o agricultor Milton Alves, que se deslocou do povoado onde mora, São Mateus, para conferir a produção da silagem em Olho d’Água dos Monteiros, é bem-vinda a disposição do Governo Municipal para estender a assistência técnica a toda a comunidade rural. “Foi uma ideia boa, que a gente apoia. Se todo mundo puder fazer isso aí, vai ser muito bom para a região”, afirmou. “Toda reunião que tem, estou sempre junto. Quanto mais eu aprender, melhor”.

O secretário Odir Freire conversa com os agricultores

“Estamos buscando cada vez mais fazer com que o agricultor tenha essa convivência com a estiagem”, informou o secretário municipal de Agricultura, Odir Freire, que também esteve na propriedade de Wilton para acompanhar os trabalhos da equipe. Segundo ele, a prestação de assistência técnica continuará: “É um trabalho que a Secretaria desenvolve já há algum tempo. E, a partir deste ano, vamos incentivar cada vez mais, priorizando esses dias de campo e orientando o agricultor para que ele possa ter noção da necessidade de guardar alimentos, para, nos momentos mais difíceis, dar para o rebanho dele”.