Um grupo de 35 papagaios, apreendidos quando ainda eram filhotes, será reintroduzido em seu habitat natural

Fundado pela Prefeitura Municipal em 2000, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Vitória da Conquista já registrou a passagem de quase 38 mil bichos por sua sede, localizada na Serra do Periperi. A atuação do serviço baseia-se fundamentalmente no combate ao tráfico de animais, motivo pelo qual 93% deles chegaram até lá após terem sido apreendidos e libertados do comércio ilegal. No entanto, o serviço lhes garante todos os cuidados necessários e, posteriormente, a possibilidade de voltar a ter uma existência mais tranquila. Ao longo desses catorze anos, nada menos que 78% dos bichos atendidos foram devolvidos com sucesso aos seus habitats naturais.

Tal índice de devolução foi descrito pela veterinária Rosana Ladeia, do Cetas, como “muito gratificante”. É nessa linha de atuação que a equipe desenvolve atualmente, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (Ufba), um projeto de soltura de 35 papagaios da espécie Amazona Aestiva, também conhecida popularmente como “papagaio verdadeiro” e típica de regiões de caatinga. Eles chegaram ao serviço ainda filhotes, após terem sido apreendidos numa operação. Cresceram no ambiente do Cetas e em contato com a equipe. Agora, de acordo com o ritmo natural do atendimento, as aves já são consideradas aptas a viver em ambiente natural e, por isso, deverão ser soltas em maio ou junho.

‘Bom exemplo’ – O projeto de soltura foi apresentado pela equipe ao prefeito Guilherme Menezes, durante uma reunião na manhã desta sexta-feira, 4, no Gabinete Civil. “O Cetas é hoje uma boa realidade para Vitória da Conquista, para a Bahia e para todo o Brasil, pois tem produzido ações que têm sido registradas e levadas para outros países como um bom exemplo”, avaliou o prefeito, após acompanhar uma explanação sobre o trabalho desenvolvido pelo serviço, com destaque para o trabalho de soltura de aves.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Hudson Castro, também acompanhou a apresentação e deu sua definição do serviço, que é ligado à pasta da qual é titular. “Tornou-se, hoje, um espaço que é uma referência em nível nacional. Estamos recebendo visitas de estagiários de outras cidades e até de outros estados”, informou.

Repatriação – Não será a primeira vez que a equipe do Cetas realiza um trabalho de soltura de animais. Grupos de aves pequenas já foram repatriados em outras ocasiões. Desta vez, no entanto, será a primeira repatriação feita com aves que cresceram no serviço. Para isso, foi selecionada uma área de mata contínua, localizada no município de Condeúba. O local foi escolhido por se encaixar numa série de critérios favoráveis. “Por ser uma área grande, protegida e de mata contínua, que permite que eles sejam livres e se reproduzam naturalmente só dentro desse espaço, sem precisar ir muito aos centros urbanos atrás de alimentação. E é indicada para a espécie”, explicou a veterinária.

Soft release – O procedimento de reintrodução das aves na natureza segue várias etapas. Inicialmente, há um trabalho de readaptação alimentar, a fim de aumentar a musculatura para que os bichos tenham melhores condições de voo. As aves são, então, levadas para a área de mata em que serão soltas. “Soltamos devagarinho, num processo que chamamos de soft release, no qual o viveiro que construímos é aberto. O animal vai e volta quando ele quer”, descreveu Rosana. Enquanto isso, a equipe acompanha tudo de perto, inclusive a alimentação dos pássaros.

No primeiro momento, a equipe permanece no local durante quinze dias consecutivos, a fim de verificar a adaptação dos bichos ao novo ambiente. Ao fim desse período inicial, os técnicos retornam a cada trinta dias, passando somente uma semana.