Desenvolvimento Rural
Postado em 28 de julho de 2017 as 16:58:38
Com apoio da Prefeitura, o evento ofereceu aos agricultores familiares a chance de comercializar seus produtos sem a intermediação de atravessadores
Já passava das duas horas da tarde desta sexta-feira, 28, data em que se celebra o Dia do Agricultor. Em frente à sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vitória da Conquista, ocorria a primeira edição da Feira da Agricultura Familiar, que acontece até o sábado, 29.
Nas caixas do sistema de som improvisado, soava o refrão da música “Obrigado ao homem do campo”, um antigo sucesso da dupla Dom e Ravel, muito tocada nas rádios durante a década de 70 – e ouvida desde então pela maioria dos que estavam ali. Eram cerca de 80 agricultores familiares, que, graças à feira, podiam comercializar ali produtos que eles mesmos plantaram e colheram.
Na barraca ocupada pela agricultora Vera Lúcia dos Santos, 62 anos, restavam apenas alguns poucos pacotes de feijão de corda e outros de maracujá e couve. Afinal, a procura pelos produtos fora intensa. O andu verde e o pão caseiro, este preparado por ela mesma, haviam vendido completamente.
“Plantei e colhi da minha lavoura, mesmo”, fez questão de dizer a lavradora, que mora no povoado de Itapirema, a 18 quilômetros da área urbana de Vitória da Conquista, na região do distrito de José Gonçalves.
A feira acabou por ser uma alternativa para um antigo problema enfrentado pelos pequenos agricultores que, como Vera Lúcia, plantam em quantidades suficientes apenas para manter suas famílias. Quando a lavoura é boa (o que não foi o caso deste ano) e sobra algum mantimento, eles não têm a quem vender e precisam recorrer aos chamados “atravessadores”, que lhes compram a preços reduzidos e os revendem a terceiros, levando todo o lucro da operação.
Na feira, Vera Lúcia e seus companheiros puderam vender seus mantimentos diretamente ao consumidor. “É muito bom, porque antes a gente não tinha para quem trazer. A gente colhe o feijão da roça e não tem para onde levar. Se a gente não achar quem compra um quilo ou dois, no próprio povoado, fica sem vender”, conta a agricultora. “A gente planta só para a casa. Aí, quando sobra, a gente traz e vende, para poder comprar outras coisas”.
‘Luta’ – Para organizar a Feira da Agricultura Familiar, o sindicato contou com o apoio da Prefeitura de Vitória da Conquista (que deu apoio à organização da infraestrutura do evento e ao pré-cadastramento dos agricultores familiares), do Governo Estadual e de uma série de entidades que se dedicam a projetos ligados à agricultura familiar.
“Esses são os nossos parceiros para que essa feira aconteça. Mas os principais parceiros, aqui, são os agricultores e agricultoras que trazem o produto diretamente das suas roças”, apontou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vitória da Conquista, Balbino Santos.
Segundo Balbino, o sindicato conta com o apoio do poder público municipal para que a feira se torne um evento permanente. “É uma luta que o sindicato tem que travar para que não fique só nesta feira, e sim a continuidade. Só assim os agricultores vão ter a condição de vender a sua mercadoria e não ser explorados por atravessadores”, explicou.
‘Sem agrotóxicos’ – “A agricultura familiar é responsável pelo alimento que vai para a mesa de mais de 70 por cento dos brasileiros”, apontou Edilton Soares, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado da Bahia (Fetraf-Bahia), entidade que representa sindicatos de trabalhadores rurais de vários municípios baianos – inclusive o de Vitória da Conquista – e, nesta semana e na próxima, mantém apoio a várias feiras semelhantes, motivadas pelo Dia do Agricultor.
Soares ressalta ainda um outro diferencial dos alimentos comercializados na Feira de Agricultura Familiar conquistense. “A maior parte desses produtos são orgânicos, que são produzidos sem uso de agrotóxicos ou defensivos químicos. Então, é um produto que as pessoas podem comer tranquilas”, esclareceu o dirigente da Fetraf-Bahia. “Isso está precisando muito, porque muitos problemas de saúde, hoje em dia, vêm por conta dos alimentos, que estão contaminados”.
‘Experiência muito boa’ – O secretário municipal de Agricultura, Arlindo Rebouças, também defendeu o potencial da Feira da Agricultura Familiar para a comercialização direta entre o pequeno produtor rural e o consumidor. “Eles mesmos produzem, eles mesmos vendem”, sintetizou Rebouças, que também destacou a “aceitação muito boa” por parte do público do evento. “Preço barato e bom produto. Então, foi um êxito total”, observou.
Com relação à continuidade da Feira da Agricultura Familiar – algo que depende ainda de outras questões –, Rebouças afirmou que há interesse do Governo Municipal em que isso ocorra. “Essa primeira experiência foi muito boa”, avaliou. “E o que importa para a gente é o produtor rural, diretamente. Vamos discutir. Se for possível, vamos arrumar um espaço, e que se torne fixa essa feira. Para a própria comunidade já saber onde pode comprar esse produto direto”.