Jogo entre o Juventude e o Conquista pelo Campeonato Baiano Feminino 2017

“Aqui em Conquista, de dois anos pra cá, o futebol tem se fortalecido mais com a Prefeitura dando apoio”

O Brasil é ainda o país do futebol. E não é pra menos: a Seleção Brasileira é a que tem mais títulos na Copa do Mundo – principal competição esportiva do futebol. Cinco vezes campeã. Além disso, foi a única a participar de todas as edições do evento e só ficou na fase de grupos da competição em duas ocasiões.

Mas, neste 19 de julho – Dia Nacional do Futebol, vamos enaltecer os amadores de nossa cidade. Gente como a jogadora Eli Pires e o dirigente do projeto Juventude Atletas para Cristo (Japec), Francisco Chaves. E por que não exaltar também aqueles que querem viver dessa paixão? Meninos como Renato da Cruz, do povoado de Campo Formoso, recém-aprovado no Atlético Goianiense. Ou ex-jogadores, a exemplo do conquistense Danilo Santos.

Uma paixão duradora – O futebol entrou na vida de Eli ainda quando ela era criança em Juazeiro e mesmo depois de décadas a paixão pelo esporte marca a atacante do Conquista Futebol Clube e da equipe de Futsal Migs. “Financeiramente não tenho nada, mas o futebol pra mim é tudo. Não consigo viver sem ele. Jogo futebol de manhã, à tarde… quando não tiver trabalhando, eu tô jogando. Tanto é que estou morando praticamente na frente do Edvaldo Flores (Estádio Municipal)”, declara. Aos 39 anos de idade, Eli também exerce outra atividade relacionada com o esporte: ela é árbitra em jogos do futebol masculino.

Para a jogadora, o futebol feminino no Brasil ainda está em fase de crescimento. Mesmo sem incentivo por parte de outros governos ou da família, muitas meninas continuam chutando a bola e sentem que em Vitória da Conquista o incentivo do Poder Municipal ao futebol feminino está mudando para melhor. Tanto que sem perguntas direcionadas, Eli fala espontaneamente sobre como isso acontece: “Aqui em Conquista, de dois anos pra cá, o futebol tem até se fortalecido mais com a Prefeitura dando apoio. A Prefeitura fez o Campeonato Municipal, o Campeonato da Zona Rural e promoveu duas competições de futsal feminino. Antes não tinha campeonato. Tanto que a gente ia jogar fora e agora é o pessoal de lá que vem pra cá. Eu vou em outras cidades e você vê que não tem muito apoio dos governos municipais. Em Conquista está se fortalecendo muito, tem melhorado bastante aqui”.

O Conquista Esporte Clube participou do Campeonato Baiano de Futebol Feminino 2017. Foi a primeira vez que dois times da cidade participaram da competição estadual, já que o Juventude Esportiva esteve em outras edições. As duas equipes mantém parceria com a Administração Municipal. A equipe do Conquista, por exemplo, é formada, em sua maioria, por jogadoras de times da zona rural e foi fundada com o apoio do Governo Municipal. Além disso, conta com a infraestrutura do Edvaldo Flores para realizar seus treinos. Além do apoio de infraestrutura, o Juventude também recebe assistência odontológica, jurídica e psicológica.

Eli Pires, jogadora e árbitra: “O futebol para mim é tudo”

Amor além das quatro linhas – Francisco Chaves também se dedica ao futebol na cidade há mais de 20 anos. Atualmente, o servidor municipal coordena o Juventude Atletas para Cristo (Japec), no qual a modalidade esportiva é o carro chefe. A ação atende diretamente cerca de 50 crianças e adolescentes.

A atividade física é fundamental para o desenvolvimento da criança e do adolescente, mas o fundador do projeto, Francisco Chaves, queria mais do que isso: “Há mais de 20 anos trabalho com o esporte e eu passei a desejar um projeto que não visasse apenas a bola, então eu conheci Ioná Santos e entendi que poderíamos trabalhar formando cidadãos, seu caráter, gente de bem. Foi quando a praça ficou pronta, aí corremos atrás de toda a documentação para montarmos o projeto e fazer um trabalho além do futebol. Entregamos livros para os jovens lerem, a leitura é muito importante, e premiávamos quem lia. Percebemos que estava dando certo”, conta.

Até o início de 2017, o projeto era desenvolvido nos finais de semana. Mas isso mudou também. “Francisco trabalhava no setor de limpeza da Prefeitura. Um dia ele me mostrou seu projeto e eu achei muito interessante. Estávamos com muitos problemas na Praça da Juventude, então, Francisco foi transferido para a praça e entrou com essa ação durante toda a semana”, lembra o coordenador de Esportes.

Hoje, além desses meninos, Francisco atende a criançada e os jovens do entorno e das escolas próximas e é responsável pela manutenção da praça. O servidor enxerga seu local de trabalho como um campo missionário. Prova dessa dedicação é que no domingo, dia do seu descanso, Francisco realiza torneios.

Para ele, o futebol é um meio usado por Deus para impactar a vida desses garotos: “Nós lidamos com vidas de jovens e adolescentes e isso é muita responsabilidade. Isso aqui é uma alegria para eles e com certeza tudo que fazemos em benefício deles hoje, no futuro eles entenderão e fará a diferença nas suas vidas fazendo-os cidadãos de bem”, finaliza o fundador da Japec.

Atletas da Japec com Francisco (de blusa verde), ao lado do coordenador de Esportes, Jaldo Mendes

Sonho de professor, realização de aluno – “Tudo o que conquistei na minha vida, abaixo de Deus, foi o futebol que me deu. E, da mesma forma que me deu oportunidades, eu já pensava em oportunizar às crianças e aos jovens. A cidade é um celeiro e estava carente de um trabalho assim”, afirma o conquistense Danilo Santos, que já jogou em vários times profissionais do Brasil e em Malta. O ex-atacante dá as primeiras coordenadas num centro de treinamento para preparação de atletas, montado por ele há pouco mais de dois anos.

Lá, meninos de Vitória da Conquista e municípios vizinhos são treinados para realizar o sonho de ser jogadores de futebol. Um desses garotos é Renato da Cruz, 13 anos. O interesse pelo esporte surgiu muito cedo, incentivado pela família. “Comecei a jogar bola e vi que tinha um pouco de habilidade. Eu espero virar um profissional, jogar em um time grande e dar uma vida boa pra minha família”, disse o volante. Renato costumava jogar no campo de terra de Campo Formoso, povoado de Vitória da Conquista, e se destacava. Aos 12 anos, ele disputou o Campeonato de Futebol da Zona Rural, promovido pela Coordenação Municipal de Esportes, na equipe do povoado. Na competição há duas categorias, aspirante e principal, todas formadas por jovens ou adultos.

Mas não é só de aptidão que se faz um jogador profissional, pois o país é um celeiro de talentos. Renato sabe bem disso e tem outra característica importante: a perseverança. Há três meses, ele fez o teste na DS Treinamentos Específicos e foi aprovado. Nas primeiras semanas, o adolescente vinha do povoado três vezes por semana para participar dos treinos táticos, técnicos e do condicionamento físico, oferecidos gratuitamente pelo centro. Em busca do seu sonho, ele veio para cidade morar com seu irmão. Mas também não era fácil assim. Até uma semana atrás, ele vinha do Loteamento Vila América até o Alto Maron de bicicleta para os treinamentos. “Tudo isso pra realizar o meu sonho, que não é fácil, né?”, comenta.

Renato, de Campo Formoso, é o exemplo da perseverança: vinha de bicicleta do loteamento Vila América ao Alto Maron três vezes por semana

Só que há duas semanas, Renato viajou mais de mil quilômetros até Goiânia e deu vários passos na concretização do seu sonho. Ele participou pela primeira vez de uma peneira e foi aprovado pelo Atlético Goianiense. “Graças a Deus passei e estou me organizando bem para ir lá, me destacar e crescer cada vez mais”. No teste, ele foi com o professor Danilo. Agora, vai sozinho em busca daquilo que sempre almejou. Sua apresentação já está marcada para o dia 5 de agosto, mas ele se diz tranquilo. “Gosto muito de ter calma. Eu sei que se tiver calma, trabalhar bem e ter dedicação, tudo vai dar certo”.

E se tudo for como Renato planeja, ele já fez uma promessa ao seu mestre: “Igual eu falo: eu quero sempre ajudar o próximo. Se eu puder, um dia, eu vou dar o CT (centro de treinamento) dele”. O sentimento de Renato se explica: o ex-jogador tem dado oportunidade aos atletas da Zona Rural. “Temos abraçado esse pessoal que é guerreiro, que não desanima e não desiste. O Renato é um grande potencial, tanto é que foi aprovado na primeira avaliação”, comenta o coordenador do DS Treinamentos Específicos.

Treinamento no estádio Edvaldo Flores na tarde desta quarta-feira (18)

Segundo Danilo, a aprovação de Renato e outros meninos em clubes profissionais, por meio dessa preparação realizada por sua equipe técnica, se deve também à parceria da Administração Municipal: “Agradecemos muito a Prefeitura, pois sem o Estádio as crianças poderiam estar fazendo coisas indevidas para a sua idade. Através desse espaço, nós conseguimos transformar vidas, formar caráter e realizar sonhos”.