Cultura, Turismo, Esporte e Lazer
Postado em 19 de novembro de 2022 as 09:13:51

Elton Becker fala ao público no último dia da Mostra Cinema Conquista
Desde a abertura, na terça-feira (15), com a exibição do longa-metragem Alice dos Anjos (Daniel Almeida), até esta sexta-feira (18), quando foi exibido Marte Um (Gabriel Martins), cerca de 1.500 pessoas passaram pelo Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima para assistir aos 29 filmes, entre curtas e longas (7 deles produzidos em Vitória da Conquista), que constaram da programação da 15ª Mostra Cinema Conquista.
Contabilizando-se ainda as pessoas que se inscreveram nas atividades formativas, a exemplo de conferências, curso de produção de curta-metragem e oficina de animação, registrou-se a participação de pelo menos mais 50 pessoas.

Espectadores foram atraídos por produções locais, como Alice dos Anjos e Seresta, entre outros
Para viabilizar essas atividades no retorno da Mostra, após dois anos de ausência em razão da pandemia da Covid-19, os organizadores contaram com o apoio financeiro da Prefeitura de Vitória da Conquista, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sectel).
“A gente fez um formato da Mostra em tamanho menor”, disse o coordenador-geral do evento, Esmon Primo, ao se referir às dificuldades impostas pela ausência de recursos federais significativos para a realização do evento – algo que, segundo ele, não chegou a comprometer o interesse das pessoas pelos filmes mostrados. “Tivemos uma aceitação e uma participação de um público muito interessante. A gente enxerga que isso ocorreu por inserirmos as produções locais”, analisa Esmon.

Esmon Primo, Duba Rodrigues (com o prêmio entregue aos cineastas) e Rogério Oliveira
O coordenador avaliou que, diante da necessidade de seguir um formato mais enxuto, os recursos repassados pela Prefeitura foram essenciais. “Em junho, tivemos uma conversa com a prefeita Sheila Lemos, junto com o secretário Xangai e o coordenador Alecxandre Magno”, relatou Esmon. “A partir desse entendimento conjunto, foi possível dar este apoio, que foi o suficiente para este formato. A gente agradece muito por esse entendimento da Prefeitura”, disse ainda o coordenador do evento.
Xangai quer que o evento ganhe prestígio internacional
Ao analisar o retorno da Mostra Cinema Conquista ao calendário de eventos pós-pandemia, Xangai demonstrou grandes expectativas para o futuro. “Ver o Centro de Cultura lotado de pessoas interessadas em ver essa oferta de filmes me deixa confiante, na certeza de que, para adiante, nós vamos ter mostras de cinema muito mais ricas. Para tanto, creio que a Prefeitura, que já apoia, deva arrumar uma maneira de ter um recurso ainda maior para trazer atrações ainda mais contundentes e mais significativas”, disse o titular da Sectel. “Vitória da Conquista e sua mostra de cinema conquista. E conquistam, mesmo”, arrematou.
Entre essas conquistas, Xangai menciona o crescimento do prestígio da Mostra Cinema Conquista, tanto em nível nacional quanto internacional. Por ser realizado num município com população de 343,6 mil habitantes, onde nasceu o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), o evento pode se aproximar, em termos de repercussão, de um festival de cinema como o de Gramado (RS), cuja população é de 36,8 pessoas.
“Gramado é uma cidade pequena e tem um festival que é conhecido internacionalmente. Eu penso que nós podemos transformar a Mostra Cinema Conquista em algo muito gigantesco. Algo muito importante para o nosso município, o nosso estado e o nosso país”, aposta Xangai.

Daniel Almeida, diretor de Alice dos Anjos: “É uma honra mostrar este filme num momento de retomada da cultura no Brasil”
Diretor de Alice dos Anjos diz que a Mostra retorna em momento de esperança
O diretor do longa Alice dos Anjos, Daniel Almeida, saudou o retorno da Mostra Cinema Conquista e comentou sobre suas expectativas para o cenário cultural brasileiro – tendo o cuidado de incluir, nesse contexto, a produção cinematográfica conquistense. “A Mostra chega para apresentar um novo momento também para o cinema conquistense. É um cinema que existe, que está em ascensão. Um cinema que está tomando um protagonismo no cinema audiovisual brasileiro e que, nos últimos dois anos, a gente tem levado para fora”, afirmou o cineasta.
Seu filme, por exemplo, estreou no Festival de Cinema de Brasília (DF) e percorreu outros eventos pelo país afora, nos quais amealhou prêmios. Foi exibido, inclusive, em festivais realizados no exterior. A exibição no município em que foi produzido, segundo o realizador, traz uma sensação diferente. “É uma honra poder mostrar, num momento de retomada da cultura no Brasil. Tivemos quatro anos em que a cultura foi paralisada. A gente perdeu o Ministério da Cultura, não tivemos editais da Ancine. E o filme é um resultado de políticas públicas. Isso representa muita coisa”, afirmou Daniel, que definiu o atual momento como “de esperança, tanto para o cinema brasileiro quanto para o cinema do interior da Bahia”.
Retorno dos encontros presenciais foi destacado pelo público
O professor Rogério Oliveira, do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste (Uesb), destacou o retorno dos encontros presenciais e das oportunidades para não apenas assistir, mas também discutir sobre cinema. O fato de os organizadores da Mostra não terem aderido ao formato virtual, nos dois anos em que a pandemia tornou impossíveis as aglomerações, levou a que os cinéfilos nutrissem um sentimento de nostalgia em relação ao evento. “Tem filme aqui que eu consegui assistir sozinho, em casa. E, depois, vendo esses filmes aqui, coletivamente, com o calor do público, e com essa possibilidade de a gente conversar sobre os filmes presencialmente, dá um sabor muito especial à experiência”, observou Rogério.

Marcelo Miranda, curador da 15ª Mostra Cinema Conquista
O cineasta Duba Rodrigues, diretor do curta Seresta, também se referiu à presença maciça do público nas sessões. “É muito bonito chegar aqui e ver tanta gente participando e assistindo aos filmes. Quero que, cada vez mais, venha mais gente”, comentou Duba.
Produções locais trouxeram sensação de pertencimento
Espectador assíduo da Mostra há anos, o professor Glauber Leal esteve no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima ao lado da esposa, Tatyara Matos, e da filha Alice, de 12 anos. Depois de assistir ao longa Filho de Boi (Haroldo Borges), o qual considerou “muito sensível e interessante”, Glauber também identificou na presença de filmes feitos por conquistenses um chamariz para o público. “Este é um espaço que realmente fez falta nos últimos dois anos. Os curtas, com produções locais, movimentaram bastante as sessões. O pessoal sente uma sensação de pertencimento ao se ver ali. Isso acaba trazendo muita gente para a sala de cinema”, afirmou o professor.

Glauber Leal com a esposa, Tatyara, e a filha Alice: “As produções locais movimentaram bastante as sessões”