Após dois dias de discussões no auditório Lúcia Dórea, no Cemae, encerrou-se nesta quinta-feira (14) a programação do 1º Encontro Municipal da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que trouxe diferentes abordagens sobre o tema “Desafios contemporâneos na busca por autonomia: garantias e perspectivas”.

A parte matutina das atividades envolveu debates sobre segurança pública. E à tarde, foram realizados dois painéis. O primeiro, intitulado “Políticas públicas e enfrentamento à violência: desafios, avanços e perspectivas”. Na segunda parte da tarde, o público teve acesso ao segundo painel, desta vez sobre o tema “A importância da perspectiva de gênero no enfrentamento à violência contra mulheres”. Houve apresentações de boas práticas da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres e participação de Rodrigo Ferreira, coordenador do Núcleo de Prevenção e Monitoramento da Violência nas Escolas, vinculado à Secretaria Municipal de Educação (Smed).

O primeiro painel foi um compartilhamento da experiência desenvolvida em Salvador, por meio da Casa da Mulher Brasileira, equipamento inaugurado em dezembro de 2023, que já prestou atendimento a mais de 1.080 mulheres vítimas de violência. No espaço, cuja implantação e manutenção envolvem recursos dos governos Federal, Estadual e Municipal, é possível ter acesso a serviços de diferentes instâncias dedicadas a atender mulheres em situação de violência doméstica.

Os trabalhos foram conduzidos por duas convidadas: a secretária de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude da Prefeitura de Salvador, Fernanda Lordêlo, e a coordenadora de um dos setores da pasta, o Núcleo de Enfrentamento e Prevenção ao Feminicídio (NEF), Iracema Silva.

A secretária defendeu que a experiência soteropolitana seja ampliada, já que a questão da violência contra as mulheres é um problema generalizado. “É importante estarmos aqui juntos, em rede, dialogando para além de Salvador, porque o problema do feminicídio e da violência perpassa por todos os territórios do nosso estado”, avaliou Fernanda, mencionando o resultado de uma pesquisa recente, na qual a Bahia ocupa o terceiro lugar, entre os estados analisados, em número de feminicídios e outros casos de violência contra a mulher. Entre os estados do Nordeste, a Bahia registrou o maior número de casos desse tipo de crime.

“O trabalho realmente precisa ser articulado em todos os territórios. Então, quando nós estamos aqui, compartilhando as nossas boas práticas, é exatamente buscando, com todos os órgãos da rede de proteção, mecanismos, modos e meios de minimizar esses números”, defendeu a gestora.

Iracema Silva falou sobre o trabalho do NEF com homens que já cometeram violência contra mulheres – muitos deles, inclusive, tendo sido impedidos de se aproximar novamente de suas vítimas, por responderem a medidas protetivas. Lá, os homens agressores são divididos em grupos reflexivos e passam por uma experiência que dura um ano e três meses.

“Essa é também uma demanda muito específica, mas de importância para a prevenção à violência”, explicou a coordenadora. “Eles passam por um processo de reeducação, desconstrução do machismo, a inteligência emocional, a masculinidade tóxica, o relacionamento abusivo, para que os atos de violência não se repitam”, relatou Iracema.

‘A gente vivencia isso’

“Eu percebo que foi importante trazer essa discussão”, avaliou Mariana Moraes, que atua como supervisora do Programa Primeira Infância no SUAS (PIS). Ela participou dos dois dias do evento e registrou informações sobre diferentes momentos da programação. “Hoje, tiveram explicações sobre como funciona o processo judiciário, e as pessoas tiraram suas dúvidas. E, sobre a Lei Maria da Penha, a aplicação dela e como ela funciona, inclusive no âmbito virtual. Ontem, à noite, foi interessante o detalhamento de como funciona a Casa Rosa e a importância de que seja um lugar sigiloso, que preze pela segurança e pela autonomia das mulheres”, contou Mariana.

Outra participante, a assistente social Luciana Silva, comprovou que o conteúdo das discussões terá influências em seu trabalho diário, no Centro de Referência de Assistência Social 7 (Cras 7 – Nossa Senhora Aparecida). “A gente já vem vivenciando isso”, afirmou. “O Cras está de portas abertas para isso. Para levar essas mulheres a entender qual caminho percorrer, para, juntamente com elas, enfrentar essa violência”, concluiu a assistente social.

Desconstruindo o patriarcado

Para a anfitriã do evento, a secretária municipal de Políticas para Mulheres, Viviane Ferreira, o evento serviu para que o público participante tomasse conhecimento sobre práticas de prevenção e combate à violência de gênero – algo que, segundo ela, é bem mais complexo e profundo do que pode parecer. “Esse encontro, para nós, é de suma importância, sobretudo para a reflexão da nossa sociedade. As pessoas precisam compreender e enfrentar a violência contra a mulher, educar os filhos e desconstruir essa cultura do machismo e do patriarcado. Isso é de suma importância para que a gente possa vencer a violência em seus diversos ciclos”, observou Viviane.