Desenvolvimento Social
Postado em 5 de julho de 2023 as 19:13:00

Ricardo Alves (de pé, à esq.) e Laís Pinheiro (de verde)
O Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que atende ao território do bairro Pedrinhas, sediou, nesta quarta-feira (5), a primeira atividade do ciclo de ações que serão desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes), por ocasião do dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Nessa oportunidade, em cumprimento à Lei Federal nº, 12.987/2014, também se celebra a memória da líder quilombola Tereza de Benguela, que, no século 16, liderou durante cerca de vinte anos a resistência contra o governo escravista brasileiro e coordenou as atividades econômicas e políticas do Quilombo Quariterê, situado na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia.
Na sede do Cras Pedrinhas, a roda de conversa tratou do protagonismo das mulheres negras na sociedade brasileira, com um recorte específico sobre o contexto de Vitória da Conquista – um tema que interessa a todas as pessoas, e que põe na condição de protagonistas os próprios usuários do serviço, já que o Cras Pedrinhas é responsável por um público predominantemente formado por pessoas que se autodeclaram negras e pardas. São mais de 4,6 mil famílias espalhadas pelos bairros Pedrinhas, Alto Maron, Cruzeiro, Petrópolis, Guarani, Centro, São Vicente e Sumaré.
Potencialidades
“Toda oportunidade que a gente tem para conversar com as pessoas sobre as potencialidades que existem no território, é válida para fortalecer, inclusive, o trabalho social que é realizado através dos serviços ofertados pelo Cras”, explicou a gerente do Cras Pedrinhas, Laís Pinheiro.
Laís reforça que, ainda que haja o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, a data especificamente direcionada à mulher negra, no dia 25 de julho, torna-se necessária em razão do racismo estrutural que caracteriza o contexto social brasileiro. “Quando a gente fala da mulher negra, a gente está especificando que existe um movimento para evidenciar e potencializar as ações e a representatividade da mulher negra no nosso território, no nosso bairro, no nosso país, e para o mundo também”, informa a gerente. “Enquanto um agente no território, o Cras utiliza essas ferramentas para potencializar todas essas ações que, inclusive, evidenciam a autoestima da mulher e a representatividade da mulher negra no nosso território e em todos os espaços que ela pode ocupar”, conclui.
Visibilidade
Ações semelhantes, com discussões na mesma linha, serão realizadas em toda a rede socioassistencial do município. “Estaremos mobilizando a sociedade conquistense para um debate sobre o protagonismo da mulher negra. Os avanços, desafios, o papel que essa mulher tem dentro da sociedade conquistense, os espaços de poder que ela ocupa e como estamos enfrentando as questões estruturais que envolvem a mulher negra dentro do nosso contexto”, diz o coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ricardo Alves.
E, no dia 26 de julho, no Centro Integrado de Direitos Humanos (CIDH), haverá homenagens às servidoras negras que atuam na Semdes, com o tema “Mulheres negras que acolhem mulheres negras”. Será uma programação de atividades culturais, incluindo uma palestra sobre autoestima e autocuidado, a cargo da psicóloga Ana Amélia Sobral.
“A gente também tem que ter um olhar para o nosso servidor e para qual é o espaço que essas mulheres ocupam dentro da gestão, o que elas fazem e qual a importância de serem vistas. O intuito maior também é dar visibilidade, porque a gente enfrenta o racismo dando visibilidade aos protagonistas negros e negras”, afirma Ricardo.

Laiz Gonçalves, neta de dona Dôla
“Ato de resistência”
“Para nós, que somos o primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista, é um ato de resistência”, disse Laiz Gonçalves, usuária do Cras Pedrinhas e articuladora do Beco de Dôla. “Estamos resistindo num bairro onde a população toda é negra. Então, falar do julho das pretas é lindo e emocionante para nós, mulheres pretas que vêm dessa realidade que é vivida dentro desse território”, acrescentou Laiz, em frente a um cartaz que trazia retratos de mulheres negras que conseguiram ocupar espaços de visibilidade em diferentes contextos, como a própria Tereza de Benguela, a jornalista Glória Maria (1949-2023), a atriz Ruth de Souza (1921-2019), a socióloga e ativista Marielle Franco (1979-2018) e a avó de Laiz, Maria Petronília – falecida em 2006, conhecida como Vó Dôla, que hoje dá nome àquele que é considerado o primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista.