Celebrados, respectivamente, nos dias 21 e 22 de março, os dias Internacional das Florestas e Mundial da Água não poderiam mesmo ficar distantes, pois um não sobrevive sem o outro e ambos são vitais para a sobrevivência do planeta. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, além de fornecer comida, combustível, renda e emprego, as florestas sustentam a fertilidade do solo, protegem os recursos hídricos e oferecem habitats para a biodiversidade, incluindo espécies polinizadoras. Por sua vez, as bacias hidrográficas nas florestas fornecem água doce a mais de 85% das principais cidades do mundo.

Com mais de 900 metros de altitude e clima tropical, Vitória da Conquista é privilegiada por possuir uma floresta e a nascente de um rio praticamente no coração da cidade. A Reserva Florestal do Poço Escuro possui 17 hectares de mata ciliar, com cerca de 200 variedades de árvores e arbustos, e abriga as principais nascentes do Rio Verruga, com uma diversidade biológica e beleza que encantam os visitantes.

A mata fechada possui espécies centenárias, como o guanandi, também chamado de jacareúba, e o ipê-amarelo, árvores típicas da Mata Atlântica que podem chegar a 30 metros de altura e a mais de 100 anos de vida. A pouca luminosidade do local, devido à quantidade e altura das árvores, foi determinante para a escolha do nome que se popularizou como Poço Escuro.

Mas, para garantir que a Reserva Florestal do Poço Escuro, um dos últimos remanescentes de mata de grande porte em área urbana continue existindo, a Prefeitura de Vitória da Conquista, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), tem adotado inúmeras políticas públicas e ações que impactam positivamente, garantindo a sustentabilidade e uma cidade mais habitável para as gerações atuais e futuras.

Entre as medidas adotadas, na última quarta-feira (19), a Prefeitura Municipal encaminhou à Câmara de Vereadores o Projeto de Lei Complementar Nº 10, para oficializar, no município, os 18 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU. Os ODS compõem uma agenda da ONU para guiar políticas públicas até 2030. “A adesão formal a esse compromisso internacional reflete o esforço da gestão municipal em promover políticas públicas responsáveis e inovadoras, […] e a busca por um futuro mais sustentável para a nossa cidade e seus cidadãos”, declarou a prefeita Sheila Lemos.

Plano de arborização

Para além das legislações ambientais, a Prefeitura tem realizado ações práticas mais imediatas que preveem resultados em curto, médio e longo prazo. Uma delas é o projeto “Conquista Mais Verde”, que busca a prevenção dos impactos causados por mudanças climáticas, além de combater a degradação do solo e apoiar a proteção da vida terrestre. A ação ligada ao 13º e 15º ODS já plantou mais de 500 mudas, de 15 espécies nativas, em diversas áreas da cidade. A Prefeitura também publica, na segunda-feira (24), a  portaria 002/2025 para a criação do Grupo de Trabalho para Plano Municipal de Arborização que será divulgada oficialmente na próxima semana.

Outra importante frente de trabalho da Prefeitura de Vitória da Conquista é com a preservação dos mananciais, por meio de revitalizações realizadas por diversas secretarias, a exemplo do Meio Ambiente, Serviços Públicos (Sesep) e Infraestrutura Urbana (Seinfra). A proposta está em conformidade com o sexto ODS que visa assegurar a distribuição de água potável e do saneamento básico para todos os cidadãos. “Sobre a distribuição de água potável, a Prefeitura de Vitória da Conquista se enquadra bem no ODS, pois a gestão municipal distribui nove bilhões de litros d’água por mês à população da Zona Rural, naquelas regiões onde a água é escassa”, disse a prefeita Sheila.

Segundo a secretária de Meio Ambiente, Ana Cláudia Passos, é fundamental adotar medidas para enfrentar o aquecimento global e a crise gerada pelo uso desenfreado da água. “A sustentabilidade traz inúmeros benefícios para indivíduos e comunidades, como saúde, segurança alimentar e energética, além da proteção contra riscos naturais. Por isso, a conscientização e a participação da sociedade são fundamentais”, destacou.

Sobre o Poço Escuro e o Rio Verruga 

 

Localizado na Reserva Florestal do Poço Escuro, o Rio Verruga possui uma bacia hidrográfica de 901 km² e se estende por 57,5 km, atravessando Vitória da Conquista por meio de galerias subterrâneas. Além de drenar a porção centro-sul da cidade, suas águas também percorrem parte do sudoeste de Barra do Choça e do norte de Itambé.

Com a expansão urbana ao longo das décadas, a Reserva, situada na Serra do Periperi, passou a sofrer impactos significativos da interferência humana. O descarte inadequado de lixo, a poluição da água, o despejo irregular de esgoto e algumas queimadas passaram a comprometer a preservação do rio e do ecossistema local.

 

Em 2019, a Prefeitura Municipal, por meio de projetos e parcerias, intensificou os esforços para a recuperação ambiental e paisagística das nascentes e áreas verdes. Através de um convênio com o Fundo Nacional de Meio Ambiente, foram realizadas, na Lagoa do Jurema e nos cursos d’água do Rio Verruga, ações como o cercamento de áreas, a limpeza e o tratamento do solo, plantio de milhares de mudas nativas, além da retirada de mais de mil toneladas de resíduos domésticos e da construção civil.

No mesmo ano, ainda sob a gestão do ex-prefeito Herzem Gusmão, foi implementado através do decreto n° 19.394, a criação do Parque Ambiental do Rio Verruga, para integrar novamente a paisagem e a vida conquistense. O parque inclui a implantação de jardins temáticos e equipamentos como a Catedral das Flores, o Orquidário, a Praça Bartolomeu de Gusmão, áreas esportivas, playgrounds, redários, a reestruturação do Horto Municipal, além de quatro lagoas de estabilização desativadas pela Embasa.

Em parceria com a Sesep, a Semma realiza inúmeros mutirões de limpeza na Reserva do Poço Escuro, pois, embora seja área de preservação, a localidade possui nascentes que compõem o Rio Verruga e por estar inserido dentro da Zona Urbana do município, acaba sendo alvo do descarte criminoso de resíduos. 

Nascente do Rio Verruga

A Secretaria de Serviços Públicos conta com técnicos ambientais que orientam a população sobre o armazenamento e descarte ambientalmente adequado do lixo, evitando que venham a causar obstrução nos córregos e canais pluviais. “O aspecto legal, contido nos Códigos de Posturas e Código Ambiental do município, preveem uma série de punições aos infratores, mas uma população educada e consciente da importância da preservação dos espaços públicos, são os principais agentes na transformação de qualquer cidade. A melhor saída é a educação ambiental “, declarou Luís Paulo Sousa, secretário da Sesep.

Lagoa das Bateias 

E por falar em conservação dos mananciais, o Parque Municipal da Lagoa das Bateias é um exemplo dos investimentos realizados pelo Governo Municipal, que em março de 2023 iniciou a revitalização daquele espaço para transformá-lo em um local aprazível e acolhedor para moradores e turistas. Na primeira fase, foram realizadas ações como a remoção de resíduos orgânicos, entulhos e taboas, permitindo o ressurgimento do espelho d’água de 53 hectares que há décadas não era visto, além da limpeza da vegetação ao entorno da Lagoa.

A ação, realizada pela Prefeitura, por meio do Deserg, em parceria com a Semma, permitiu a preservação da fauna e da flora, garantindo a manutenção da biodiversidade da região. No total, foram revitalizados 234 mil metros quadrados da Lagoa das Bateias, dentro de uma área de 534 mil metros quadrados do parque ambiental.

A segunda etapa da revitalização está em andamento por meio de uma parceria entre o Governo Municipal e a VCA Construtora, com supervisão da Seinfra. O espaço já recebeu uma vila esportiva, que conta com campo sintético, quadra poliesportiva e campo de areia. O projeto também prevê a criação de duas novas vilas, gastronômica e familiar, além de um coreto com área contemplativa e outras melhorias para ampliar as opções de lazer e convivência no parque.

6° ODS

Segundo a coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento Sustentável da Semma, Ludmila Araújo, em Vitória da Conquista, as oito metas do sexto objetivo buscam “ampliar o acesso à água potável, melhorar o tratamento de esgoto, garantir a destinação correta de resíduos sólidos, além de proteger mananciais e recuperar nascentes”.

As políticas públicas de preservação dos recursos hídricos e ambientais atuam para mitigar o desperdício de água pela comunidade local e internacional. O Grupo de Recursos da Água concluiu que o mundo provavelmente enfrentará um déficit hídrico global de 40% até 2030. Somente neste ano, a ONU estima que sejam utilizados 5.200 km³ de água, um aumento de 1,3 vezes nos últimos 25 anos. 

Em Vitória da Conquista, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) calcula que os habitantes consomem, em média, 62 milhões de litros de água em dias normais. No entanto, durante o verão, esse consumo pode alcançar até 70 milhões de litros. Esses dados ressaltam a relevância de promover a gestão sustentável do uso da água.