Comunicação
Postado em 5 de novembro de 2025 as 08:00:13
Um trecho de 84 quilômetros, partindo do asfalto da Rodovia Santos Dumont (BR-116), por uma estrada de chão, separa a zona urbana de Vitória da Conquista da Vila de Cercadinho, o mais distante dos 11 distritos do município. No coração de um vale encravado na paisagem seca da Caatinga vivem cerca de 1.800 pessoas, segundo o último censo do IBGE. O local é marcado por muita história e poesia.
- Cercadinho atual
- Década de 1990
A história do distrito é marcada pela resiliência e pelo afeto da população pela localidade. Oficialmente criado como distrito pela Lei nº 4.572, de 5 de novembro de 1985, o local tem origens que remontam à década de 1930, quando a descoberta de um garimpo de águas marinhas em uma área conhecida como “Cristalão” atraiu uma grande quantidade de pessoas em busca de pedras preciosas.
- Década atual
- Década do ano 2000
Antes de se chamar Cercadinho, a vila era conhecida como Gerais, nome que perdurou até o declínio do garimpo. O relato mais convincente sobre a origem do novo nome é referente à Fazenda Cercadinho, de propriedade de Pedro Dias da Silva, um dos pioneiros da região.
Memória viva do tempo do garimpo
Entre as vozes que guardam a história local está seu Juraci Gomes da Silva, filho de Pedro Dias e um dos primeiros moradores. Nascido em 1934, ele viveu as transformações do distrito desde o auge do garimpo até a chegada da energia elétrica e das melhorias recentes em infraestrutura, como o programa municipal Brilha Conquista.

Juraci
“Quando chegaram os primeiros moradores, nos anos de 1930, o lugar era conhecido como Gerais”, relembra. “Vi muitos nascerem e crescerem. Cheguei até a aplicar vacina em um tempo em que não havia posto de saúde. Hoje melhorou e mudou muita coisa, mas o lugar continua pacífico”, conta Juraci.
Poesia e história nas mãos de dona Ana Gomes
Prima de seu Juraci, dona Ana Gomes, de 92 anos, é considerada uma “historiadora” do distrito. Autora de textos e poesias que registram a trajetória da vila, ela é guardiã de lembranças do tempo em que o garimpo do Cristalão, segundo ela, “fervilhava de vida”.

Ana Gomes
Segundo Ana, o auge da mineração deu lugar, nos anos 1940, à extração do pó da palha do coqueiro, utilizado como adubo e substrato agrícola. O trabalho, porém, durou pouco, como ela mesma registra em versos de seu livro intitulado História de Cercadinho.
“Com Deus tudo é possível e nada fazemos só.
Já falamos muito das pedras, agora vamos falar do pó…
No ano de 1943, o serviço começou.
E durou pouco tempo, pois o coqueiro acabou.”
Economia e subsistência
Apesar da distância física, as relações entre Cercadinho e a sede de Vitória da Conquista são intensas, devido à facilidade de acesso em comparação a outros centros urbanos próximos e à concentração de serviços na cidade.

Com relação à agricultura familiar, as terras que antes eram utilizadas predominantemente para o cultivo de mandioca, milho e feijão, agora dão lugar às plantações de eucalipto, alterando a dinâmica social e econômica do distrito.
Fé e comunidade
A religiosidade é outro traço marcante da vida em Cercadinho. O pastor Isaias Figueiredo, liderança local, acompanha as mudanças da vila e destaca as recentes melhorias trazidas pelo poder público, como a revitalização da Unidade de Saúde da Família (USF) e da Escola Municipal Ruy Barbosa.
“Sou grato a Deus e me sinto honrado de ter nascido e criado minha família aqui. Cercadinho é um lugar acolhedor, de pessoas honestas e trabalhadoras. É um distrito abençoado por Deus”, afirmou o pastor.

Pastor Isaias
Entre o passado e o futuro
Apesar das distâncias e desafios, Cercadinho conserva um ritmo próprio. As casas simples, as conversas nas calçadas e as festas religiosas seguem como parte do cotidiano de uma comunidade hospitaleira e ordeira, que faz do distrito um dos mais preciosos exemplos de preservação do cenário rural.
Contribuição: Arquivo Municipal






















