Educação
Postado em 9 de fevereiro de 2024 as 13:12:13

A formação de manipuladores de alimentos da rede municipal de ensino, que está acontecendo desde ontem (8), no auditório Lúcia Dórea (Cemae), teve um segundo momento nesta sexta-feira (9), com a participação do Núcleo de Prevenção e Monitoramento da Violência nas Escolas, vinculado à Secretaria Municipal de Educação (Smed). Elas foram instruídas sobre como proceder em casos de violência contra crianças e adolescentes da rede.
Na abertura do evento, as manipuladoras assistiram a uma produção audiovisual ilustrando uma situação de abuso sexual contra uma criança. Ao término do vídeo, elas foram instigadas a relatar o que acharam da situação exposta e como isso pode se apresentar nas instituições de educação em que trabalham.
- Roseni
- Ivone
De acordo com Roseni Ribeiro de Oliveira, manipuladora de alimentos há dois anos, o vídeo trouxe à tona diversas memórias ruins da adolescência. Ao parabenizar a equipe do Núcleo pelo trabalhado, ela destacou que muitas adolescentes conversam com ela sobre situações que estão vivenciando. “Como eu passei por essas situações, quando eu vejo uma jovem lá no meu trabalho, que está com a cabeça baixa ou chorando, eu chego até ela para perguntar o que foi. É tanto que os adolescentes me procuram muito lá na escola. Às vezes, eles chegam e perguntam: tia, posso conversar com a senhora?”
Já Ivone Coelho, que há 16 anos também atua como manipuladora de alimentos, destacou a importância dessas profissionais no contato direto com os alunos, porque elas podem observar o comportamento das crianças e adolescentes. “Então, eu acredito que às vezes temos até mais contato do que o próprio professor na sala de aula”, disse, ao falar que, quando os alunos não querem comer ou estão muito quietos, já é um sinal de que algo não está certo.
Segundo o coordenador do Núcleo de Prevenção e Monitoramento da Violência nas Escolas, Rodrigo Sousa Ferreira, esse momento de instrução com as servidoras é muito importante, porque neste ano, a intenção do órgão é formar todos os personagens que atuam nas unidades educacionais, sobre como proceder em casos de violência. “Então essa é uma ação preventiva do núcleo, uma ação de formação que implica logicamente em prevenção”, disse.

Além disso, ele destacou que, em 2023, o Núcleo começou uma série de atividades de capacitação, conseguindo formar monitores, pedagogos, professores, gestores e coordenadores. Agora, é a vez de outros agentes das escolas. “Se todos os personagens das escolas tiverem acesso a essas informações que nós passamos nas formações, para que não haja a revitimização desses alunos, eu acho que o Núcleo está cumprindo com sua obrigação e o seu objetivo”.
Desde que foi criado, em julho de 2021, também em parceria com o Complexo de Escuta Protegida, o Núcleo de Prevenção e Monitoramento da Violência nas Escolas atua diretamente nas unidades educacionais, com alunos que foram vítimas ou testemunhas de violência, bem como com suas famílias. Além disso, um dos propósitos é combater a violência institucional dentro da própria escola, seja ela de qualquer forma.
Visando a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, o Núcleo ainda trabalha em parceria com os Conselhos Tutelares, Juizados Especiais da Infância e Adolescência, polícias Civil e Militar, dentre outros órgãos. Atualmente, o setor é composto por pedagogo, neuropedagoga, assistente social e advogadas. Além disso, mantem o sigilo absoluto, seja com relação à criança ou adolescente, o violentador e quem efetuou a denúncia.

Cleire
Conforme a neuropedagoga Cleire Alves relatou, a violência sexual é uma situação muito cruel, e o abusador pode ser um vizinho, amigo ou algum familiar da vítima. De acordo com ela, quando a criança é abordada por algum abusador, não sabe como proceder, porque não faz parte do seu universo. “Geralmente, quando acontece o abuso, a violência sexual, as vítimas são, via de regra, ameaçadas a não contar pra ninguém”, disse. Então, essa vítima fica atormentada, sentindo dores físicas e, até mesmo, refletindo no rendimento escolar. “Tem alguma coisa pior do que você se sentir culpada de alguma coisa? Imagina uma criança sentindo-se culpada por coisa que vai acompanhando ela para onde ela vai, tirando sono, trazendo pesadelos?”, questionou.
- Odile
- Odile e Gabriela
Para representar como seria uma situação de revitimização de uma criança vítima de abuso sexual, a advogada Odile Dias mostrou para as presentes como acontece esse processo, que é tão sofrido para as vítimas, porque elas precisam relatar a situação sofrida muitas pessoas, o que faz ela reviver novamente o abuso diversas vezes. De acordo com a jornalista Gabriela Souza, que representou a vítima, mesmo sendo uma experiência fictícia, ela ficou constrangida em contar a mesma história para várias pessoas.

A assistente social Kadija de Andrade afirmou que se emocionou com a encenação, porque a situação de revitimização é um assunto muito sério. “Hoje, a gente tem um sistema diferente, temos um Complexo de Escuta Protegida. Então, o atendimento não funciona mais dessa forma”. Segundo ela, em uma pesquisa divulgada pelo Datafolha, com cerca de 2 mil mulheres, 43% delas já foram vítimas de abuso sexual. Conforme afirmou, um toque, olhar ou brincadeiras, já são considerados abuso sexual. “Infelizmente isso ainda acontece e nós temos que estar preparadas para lidar com todas essas situações”, enfatizou.













