A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) divulgou o boletim epidemiológico da hanseníase no município, que é resultado de uma parceria com o grupo de pesquisa INTEGRADTNS do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (Ufba) – Campus Anísio Teixeira, por meio do Projeto “Vigilância e cuidado integrados para DTNs: desafios para o Sistema Único de Saúde no Brasil”.

Confira aqui o boletim completo.

Para elaboração do boletim, foram avaliados dados epidemiológicos dos últimos 22 anos, em que foram notificados 875 casos de hanseníase em Vitória da Conquista, sendo que 69,1% deles foram classificados como multibacilar (a forma mais grave da doença), o que indica a possibilidade de que o diagnóstico tenha sido feito tardiamente. Com a taxa de detecção média de 12,65 para cada 100 mil habitantes, o município é, hoje, considerado um território altamente endêmico para a doença.

Em 2020, por conta da pandemia por Covid-19, houve uma interferência direta nas ações de vigilância, prevenção, monitoramento e controle da hanseníase, o que levou a uma redução de 22,5% na detecção de novos casos do ano 2019 para o 2020, e um aumento do número de pacientes diagnosticados que abandonaram o tratamento. Isso evidencia que, nesse período, as pessoas com sinais e sintomas da hanseníase não procuraram os serviços de saúde, o que resultou em subnotificação dos casos e aumento da transmissão da doença.

Kaic Pereira, um dos pesquisadores do projeto e doutorando da Universidade Estadual de Santa Cruz, explicou que um dos objetivos era caracterizar o território do município e entender a situação epidemiológica. “Vimos que houve uma diminuição dos casos de hanseníase nos últimos quatro anos, de 2019 até 2022, e a gente percebe também a importância de projetos de pesquisa, a exemplo da que foi desenvolvida no ano de 2015, quando a gente teve um ‘boom’ de detecção. Com isso, concluímos que precisamos de uma equipe multiprofissional, de uma rede colaborativa para que a hanseníase seja combatida no território”, relatou Kaic.

Kaic Pereira

Buscando reverter o cenário silencioso da doença, a Vigilância Epidemiológica (Viep) descentralizou as ações de controle da hanseníase para que também fossem desenvolvidas pelas equipes das unidades de saúde da Atenção Básica, que também fazem a notificação do paciente, a investigação e o encaminhamento para tratamento no Centro Municipal de Pneumologia e Dermatologia Sanitária (CMPDS).

O boletim epidemiológico é um importante instrumento de avaliação que permite avaliar, monitorar e tomar decisões importante sobre a vigilância e assistência ao paciente com diagnóstico de hanseníase. “Baseado nesses indicadores de saúde e nas análises apresentadas no boletim, a Vigilância Epidemiológica realiza o planejamento de ações com objetivo de reduzirmos a transmissibilidade da doença, a incapacidade que a hanseníase causa, bem como trabalharmos contra o estigma e o preconceito da doença”, afirmou a coordenadora da Viep, Amanda Lima.

Sobre a hanseníase – é a principal causa de incapacidade física permanente entre os processos infecciosos e parasitários reconhecidos na população humana, depois da paralisia infantil. A doença e as deformidades associadas são responsáveis pelo estigma social e pela discriminação sofrida por pessoas acometidas e suas famílias em muitas comunidades. Portanto, o diagnóstico e o tratamento oportunos dos casos, antes de ocorrerem lesões nervosas, vêm sendo considerados como as estratégias mais eficazes de prevenir incapacidades e sofrimentos.

A hanseníase é diagnosticada, essencialmente, por exame clínico realizado por meio de anamnese e exame físico, que verificando lesões de pele com alteração de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil, bem como presença de troncos nervosos comprometidos e teste de força muscular. O exame dos contatos dos pacientes adoecidos também é uma estratégia fundamental para o controle da doença.