A Mostra “Glauber Rocha ressuscita o povo brasileiro”, realizada pela Prefeitura de Vitória da Conquista, promoveu no último final de semana, mais um encontro com filmes, música, apresentações e palestras.

Após a exibição de dois dos mais aclamados longas metragens do diretor, respectivamente, “Deus e o Diabo na terra do Sol” e “Terra em transe”, o espaço do Memorial Casa Régis Pacheco – onde é sediada a mostra e uma exposição sobre o artista, foi aberto para discussões e análises sobre as obras exibidas.

O antropólogo e professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Orlando Ribeiro, foi o convidado para comentar “Terra em transe”, na noite deste sábado (16). Para o professor, o longa é uma de suas obras mais politizadas e até hoje sua linguagem causa impacto. “O filme é uma alegoria simbólica e autêntica do Brasil. A forma como ele traz ao debate essa cultura política brasileira, com todos os seus símbolos, é bastante atual”.

Cineasta e curador da Mostra, George Nery, explica um pouco sobre a importância técnica e estética dos filmes de Glauber. “No caso de ‘Terra em Transe’ ele trabalha com efeitos de câmera que afetam, incomodam e desafiam o olhar do espectador. Inspirado em grandes mestres, como Eisenstein, Glauber produziu algo bastante inovador para o período”, afirma George.

A noite de sábado foi encerrada com o concerto de violoncelo do cantor Filipe Massumi, com participações de outros artistas.

Palestra “Glauber Rocha e o Transe no Brasil” exibida no domingo (17) – Professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivana Bentes, é também autora de um livro sobre o diretor, intitulado: “Glauber Rocha – Cartas Ao Mundo”. Ela foi convidada pela Mostra a apresentar sua palestra: Glauber Rocha e o Transe do Brasil, que seria, a princípio, ministrada no sábado (16) e teve que ser adiada por questões de traslado.

A professora reiterou o caráter atual das obras de Glauber e questionada sobre como seria o comportamento do artista nos dias de hoje, ela mencionou ser muito provável que Glauber seria adepto das redes sociais. “Acredito que Glauber seria um entusiasta, por exemplo, do YouTube. Creio que ele tenha sido, de certa maneira, um precursor dessa forma de manifestar o pensamento e passar sua mensagem através de vídeos”, explica.

Ivana conta que se interessou pelo “universo” de Glauber Rocha ao ver o filme: A Idade da Terra, logo após a morte do diretor. Sobre o aspecto regional das obras do cineasta, ela relata influências da cultura conquistense em seus filmes: “A longa capa utilizada pelo matador (o personagem Antônio das Mortes), tanto em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’, quanto em o ‘Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro’, é uma alusão às histórias dos matadores, que na infância de Glauber, usavam longas mantas para se protegerem do frio de Conquista”.

O encerramento do dia contou com a apresentação do Grupo de Terno de Reis: Deus água, Mar e Céu, do Mestre Agapito. A Mostra Glauber Rocha permanecerá na Casa Régis até o próximo dia 24 de março.