Cada mulher carrega consigo uma história de resistência. Uma vida que nasce, uma ruptura de laço familiar, uma perda que fez com que a vida se transformasse. E aquelas mulheres que admiramos e temos como modelo em algum momento da vida, seja no cenário empresarial, esportivo ou outra área, precisou se superar, se reinventar para conquistar seu espaço em casa, no trabalho ou nos estudos.

No mês dedicado à mulher, a Prefeitura de Vitória da Conquista, que é gerida por uma mulher – primeira prefeita eleita do município, Sheila Lemos – apresenta outras mulheres que se destacam como exemplos para Conquista, para a Bahia e também para o Brasil, mulheres que romperam paradigmas e passaram por cima de preconceitos para construir uma trajetória de sucesso.

De duas máquinas de costura a uma indústria que gera autonomia

Joana, Bárbara, Rosália e Érica

Assim foi com quatro “Rosas” que resolveram cuidar da “Pétalas”, mesmo sabendo da existência dos espinhos. “A decisão muda tudo. A gente decidiu estar no mercado, então a gente acaba decidindo enfrentar as realidades do próprio mercado. A gente entende que a vida é um composto, não dá para você ser só empresária, não dá para você ser só mãe de três filhos. É um grande desafio diário, mas precisamos mesmo administrar esse mix de emoções e buscar sabedoria em Deus para que as coisas possam acontecer”, diz Érica Rosa, 42 anos – a primeira das irmãs a se aventurar em abrir sua própria fábrica, a Pétalas Lingerie, que atua há 19 anos em Vitória da Conquista.

Érica cresceu ao som do “zig zag” da máquina de costura da mãe Maria Rosa que fazia as roupas para a família e panos de prato para venda, enquanto seu pai José Silva fazia carrego na feira livre. A necessidade fez com que os filhos começassem a trabalhar cedo. Após um tempo como babás, Érica e a irmã Rosália, 39, trabalharam em uma indústria de lingerie. Lá permaneceu até dar à luz a sua primeira filha Lorrany Sousa, 22, quando foi dispensada. Foi quando a virada de vida começou a acontecer. É tanto que sua filha se autodenomina “milagre”.

Érica e a primogênita

Com uma máquina na mão e um modelo de calcinha na cabeça, Érica começou a produção, que atualmente tem uma média de 5 mil cadastros entre as cidades da Bahia, Minas Gerais e São Paulo. Comprando a ideia da irmã, Rosália também saiu da fábrica e trouxe mais uma máquina de costura para nova confecção, que repassava suas peças para o alto atacado. Por fim, toda a família se viu envolvida no fabrico, a exemplo das duas irmãs mais novas Joana Rosa, 34, e Bárbara dos Santos, 32, que compõem o quarteto da sociedade. “Se não fosse esse zelo de um ajudando ao outro, a gente não teria esse potencial. A união da família foi muito importante para quem está começando”, observa a caçula, que além das sócias, cita os outros dois irmãos. “A costura que começou com mainha é o que nos movimenta hoje”, completa Joana.

Com o tempo, as irmãs buscaram formação acadêmica para aprimorar a gestão da empresa, investiram em cursos e consultorias, e se adaptaram às mudanças do mercado, diversificando sua produção para moda fitness, moda praia e peças masculinas e infantis. “Precisamos estudar, buscar informações, estar em contato com as pessoas para passar pelos diversos momentos, seja de desafios ou de crescimento”, comenta Rosália e Érica completa: “Aqui todo mundo não é mais o mesmo de 20 anos atrás”.

Além do sucesso empresarial, a Pétalas Lingerie tem um impacto social significativo, gerando renda para diversas mulheres que revendem seus produtos. “Mostramos as vendedoras que ela poderia gerar uma remuneração a partir de um investimento pequeno e que ela pudesse modelar a vida dentro da realidade dela. Foram diversos clientes nossos que pagaram a faculdade revendendo lingerie e de muitas mães que fizeram formação dos filhos em Medicina, trabalhando nesse perfil”, comemora Érica.

Neste mês especialmente dedicado à Mulher, as irmãs celebram a força feminina e incentiva outras mulheres a acreditarem em seu potencial e a buscarem seus sonhos. “Acredite em você, persista, busque ajuda se você não sabe, tem alguém ao seu lado que vai poder te ajudar, mas não desista da sua jornada. Nós somos mulheres, nós nascemos para multiplicar e essa semente não pode parar. Hoje, nós estamos no mercado da indústria, que é em maior parte masculino, e se a gente fosse desistir por essa estatística, não estaríamos aqui. Mas nós somos o início de uma indústria que está sendo gerada, uma indústria feminina, que traz esse diferencial, esse zelo pela mulher, essa importância do ser feminino dentro do ambiente de trabalho, e como nós somos valiosas e importantes”, expõe Joana.

De uma desafio ao exemplo para a Bahia

Érika Sodré com o Diploma Mulher Cidadã Loreta Valadares

Outra Erika que é exemplo para a Bahia é a administradora e gestora em saúde, Erika Sodré, reconhecida por sua atuação à frente da Domínio Assessoria em Gestão de Saúde – única empresa do município a receber o Selo Lilás, certificação estadual que reconhece instituições comprometidas com a equidade de gênero e a valorização das mulheres no ambiente de trabalho. Só mulheres trabalham no negócio. “Para mim é um orgulho ter mulheres trabalhando comigo. E, assim, espero ser exemplo para outras empreendedoras”, declara a empresária que, atualmente, conta com 50 colaboradoras.

Há 15 anos criou o seu negócio após ser demitida. “A ideia surgiu a partir das dificuldades que eu tinha de me reinserir no mercado. Nós temos o desafio de enfrentar o mercado que dá mais oportunidades a homens do que mulheres. Quando eu vi os desafios do mercado e que algumas mulheres não tinham espaço, eu abracei esses desafios e quando eu tive a primeira oportunidade de abrir a minha empresa, eu já tinha decidido que ela abriria portas para mulheres realizar o seu trabalho”, conta Érika.

O compromisso de Érika com a inclusão e o empoderamento feminino só ganha mais força. Ela lidera três empresas, além de ter a função diretiva em outras empresas do grupo que leva seu nome. “A minha empresa surgiu e esse movimento de contratação de mulheres foi crescendo com o meu crescimento. Então, hoje eu me sinto honrada em poder abrir este mercado para diversas mulheres. E é um objetivo de vida agora empregar mulheres e ser exemplo para todas elas”, afirma Érika, que este mês recebeu da Câmara de Vereadores o Diploma Mulher Cidadã Loreta Valadares.

De um ultimato até os pódios internacionais

Suzy Ruas exibe suas medalhas na Maratona da Walt Disney

Outra mulher que precisou empreender, não pelas dificuldades do mercado e sim pelos conflitos conjugais, foi Suzy Ruas, de 47 anos. Suzy nasceu e cresceu na Zona Rural de Belo Campo e viveu um tempo em São Paulo. Em 2010, por problemas de saúde, Suzy foi recomendada a fazer uma atividade que se tornaria a sua paixão – a corrida.

“Depois que comecei a correr gostei muito. Minha saúde melhorou muito. Estava com cirurgia marcada pra fazer e não foi mais necessário”, lembra com entusiasmo, característica que lhe é peculiar. Em 2012, ela começou a competir, mas o então marido exigiu: a corrida ou o casamento. Por hora, ela escolheu o relacionamento e ficou três anos sem competir. Em 2016, ela volta a competir e, então, vem o ultimato e ela opta por sua nova paixão. “Eu percebi que ele não gostava de mim. Eu só fazia o quê ele gostava, porém deixava de fazer as coisas que eu gostava. Eu não podia correr, nem estudar, não tinha amigos, e trabalhava pra ele lavando carro”, conta Suzy.

Pelas circunstâncias, ela precisou aprender a cuidar do seu próprio negócio. Desde 2017, ela mantém um lava-jato de onde ela tira seu sustento, voltou a estudar e é referência para Vitória da Conquista, levando o nome do município para o mundo. “Hoje sou MEI, estou me graduando esse ano em Educação Física, sou mãe e pai, dona de casa, sou inspiração e motivação, sou uma atleta determinada reconhecida internacionalmente. Hoje, eu olho lá atrás e vejo que nunca é tarde pra gente conseguir realizar nossos sonhos. Eu sou prova viva disso”, celebra a corredora

Suzy ainda sonha em viver só para o esporte, mas a quantidade de patrocínio ainda é insuficiente e a impede de se dedicar 100% aos treinos. Atualmente, ela trabalha de segunda a sábado, cerca de 10 horas por dia. Em dias de grande movimento, ela chega a lavar até 20 veículos. “Isso me deixa muito cansada, pois o trabalho é pesado e são poucos os funcionários. Mesmo assim, eu não desisto de meus objetivos. Treino até de madrugada para melhorar meu desempenho nas competições”, comenta.

Entusiasta da sua carreira e empoderada, Suzy comenta que já construiu um legado em Vitória da Conquista, cidade que escolheu pra viver o resto de sua vida. E o seu bordão “se não for para causar, eu nem vou” tem razão de ser. Suzy é bicampeã baiana, campeã brasileira master, campeã paulista master, campeã carioca master, três ouro no Sul-americano de Atletismo Master, campeã Gran Pix em Buenos Aires, campeã nos 5 Km na Disney Flórida Orlando 2020, entre outras premiações.

Em abril, ela vai para a maratona de Boston. “Vou para essa corrida, que é meu sonho, carregando comigo uma bandeira da minha cidade onde eu tenho orgulho de morar. Eu bato no peito e digo: Conquista tem uma grande representante mulher que quando ela pensou que tava tudo acabado, ela acordou e está linda, maravilhosa, plena, empoderada pra contar a sua história. Sintam-se todos muito bem representados por mim porque eu nasci pra fazer a diferença”, conclui.

Da condução ao salvamento de vidas

E quem também faz a diferença na vida de muitos conquistenses é Soelma Alves Lima, mais conhecida como Sol, de 41 anos. Ela é a primeira mulher condutora do Samu 192 regional. Motorista profissional altamente qualificada, com todos os cursos especializados para atuar como condutora e serviços de primeiros socorros, urgência e emergência. E não para por ai. Para aprimorar suas habilidades, ela está cursando a faculdade de Enfermagem que sempre foi seu grande sonho. Há sete meses no Samu 192, ela experimenta essas duas sensações que é apaixonada: cuidar de vidas e dirigir.

Um exemplo para outras mulheres que amam o volante, Sol fala como é a dualidade entre chegar o mais rápido possível para salvar uma vida e oferecer segurança para os profissionais de Saúde e para o trânsito. “Com cuidado, compromisso e responsabilidade, equilibro minhas emoções para transmitir segurança e confiança à equipe. No meu papel como condutora, vou além de dirigir a ambulância, eu colaboro ativamente, participo das ocorrências e me dedico ao que realmente importa: salvar vidas”, explica

“A paixão por dirigir me abriu portas para chegar onde estou, desde as horas extras em campanhas de vacinação ao apoio nas demandas do caminhão do almoxarifado até a curiosidade sobre o trabalho do Samu. Busquei conhecimento, me especializei e, com orgulho, me tornei a primeira mulher condutora do Samu 192 regional. Uma conquista que me enche de orgulho, tanto na vida pessoal quanto profissional, pois sempre amei cuidar de pessoas”, declara orgulhosa.