Desenvolvimento Social
Postado em 21 de março de 2025 as 09:05:12

Ojás são panos brancos que simbolizam a paz
Na noite de quinta-feira (20), lideranças religiosas, representantes da sociedade civil e do governo municipal se reuniram na Praça Tancredo Neves para a tradicional Alvorada dos Ojás. O ato é promovido pela Rede Caminho dos Búzios, com o apoio da Prefeitura de Vitória da Conquista, por meio da Coordenação de Promoção da Igualdade Racial. Esse ano, o evento foi realizado um dia antes das comemorações ao Dia Nacional das Tradições de Raízes Africanas e Nações do Candomblé, celebrado em 21 de março.
A cerimônia teve início com cânticos e toques de atabaques em saudação aos Orixás, pedindo licença e abrindo caminhos para a paz e o respeito entre as religiões. Em seguida, os participantes amarraram os ojás – tecidos brancos sagrados – nas árvores da praça, simbolizando a fé, a resistência e a proteção das religiões de matriz africana.
O coordenador de Igualdade Racial, Ricardo Alves, destacou como essa foi uma edição histórica, com recorde de participação de pessoas, fortalecendo a luta contra a intolerância religiosa. “Esse é uma ato de enfrentamento ao racismo religioso e que resgata a memória das pessoas que tiveram a sua fé atacada. Esse evento ganha força com a morte da mãe Gilda de Ogum, uma vítima de racismo religioso. Para nós das religiões de matriz africana, a natureza é sagrada, por isso amarrar os ojas representa a paz e a ligação dos homens com os orixás”, destacou Ricardo.

Cerimônia de saudação aos orixás
A mobilização deste ano acontece excepcionalmente em março, pois a Rede Caminho dos Búzios, responsável pela organização do evento, solicitou a mudança da data em respeito ao falecimento de pessoas ligadas à comunidade. Mas nos anos seguintes o evento voltará a ser comemorado no dia 21 de janeiro, fazendo alusão ao Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Além de seu forte significado religioso, a Alvorada dos Ojás também é um ato de resistência contra a intolerância religiosa e o racismo estrutural. Para o pai de santo e integrante da Rede Caminho dos Búzios, Táta João, a data representa a resistência das religiões afro-brasileiras. “Essa data é muito importante pois nos lembra de um fato triste ocorrido com Mãe Gilda e simboliza nossa luta por respeito e contra a intolerância religiosa. Nós precisamos ser vistos, visualizados e respeitados”, afirmou.
- Táta João
- Ricardo
- Mãe Ana
Ao longo da noite comunidades de diversos terreiros se reuniram para cantar e celebrar a sua religião, sem medo de preconceitos ou julgamentos. Mãe Ana, da Casa de Caridade Nhá Chica – Terreiro de Umbanda, participou da celebração e destacou a importância desses momentos de união. “Fazer parte desse momento está sendo maravilhoso. Os ojás nos ajudam a contemplar os orixás, a natureza e, principalmente, a paz e harmonia. Esse é um grande passo para combater a intolerância religiosa e eu acho que vai ressoar em outros espaços. A gente precisa combater e implantar o nosso axé sobrevivendo a tantas opressões”, relatou.
O evento é um dos principais marcos de luta e afirmação das religiões de matriz africana em Vitória da Conquista. A programação em alusão ao Dia Nacional das Tradições de Raízes Africanas segue nesta sexta-feira (21), com o 3º Encontro dos Povos de Axé, realizado no Memorial Régis Pacheco, onde serão discutidos temas como garantias de direitos fundamentais e desafios enfrentados pelas comunidades de terreiro.