Comunicação
Postado em 7 de novembro de 2025 as 17:00:47
Terceiro maior município da Bahia, um dos principais da região Nordeste do país, a história e a cultura de Vitória da Conquista passam longe de se resumir ao perímetro urbano da cidade. Com 11 distritos e mais de 300 povoados, a zona rural guarda histórias e valores daqueles que contribuem para o desenvolvimento de Conquista.
O ano de 2025 marca uma data importante para algumas dessas localidades. Entre elas está Cabeceira do Jiboia, que completa 40 anos de sua oficialização como distrito do município. A cerca de 30 quilômetros da zona urbana da cidade, e com mais de 4 mil habitantes, a localidade passou por transformações ao longo das décadas, mas sem perder a identidade.
- Rancho da Pamonha – Marçal
- Serra do Marçal
Dos cerca de 17 povoados que compõem o distrito de Cabeceira do Jiboia, alguns se destacam pelo tamanho e desenvolvimento, a exemplo de Capinal, Marçal, Limeira e Duas Vendas, que são os mais conhecidos. Além desses, compõem a região, as localidades de Boa Sorte, Bandinha, Boa Vista, Brejo, Corredor do Bonito, Corredor do Sinésio, Jeribá, Lajedinho, Limoeiro, Periquito, São Joaquim, Fazenda Olho d’Água e Poço Comprido.
Cabeceira do Jiboia se destaca entre os demais distritos pela rica paisagem, considerada uma das mais belas do município e da região, com sua geografia caracterizada por um relevo ondulado com pequenas elevações arredondadas, vales largos e finos cursos d’água. O distrito se insere na região de planalto do sudoeste da Bahia, com clima subúmido a seco, e temperaturas que podem ficar bem baixas, especialmente no inverno.
O nome Cabeceira do Jiboia se deu porque a localidade foi formada a partir da nascente do Rio Jiboia, passando a se chamar Jiboia, e, posteriormente, Cabeceira do Jiboia.
Investimentos
Mesmo com uma região tão extensa, o Governo Municipal tem se comprometido com o distrito — assim como com toda a zona rural do município — com a oferta de diferentes serviços à população, como revitalização de unidade de ensino, apoio para produtores rurais, serviços de assistência social e o Castramóvel, entre outros.
- Castramóvel em fevereiro
- Escola Municipal São Tomás de Aquino…
- … revitalizada em setembro
- Suas na Comunidade, no início de novembro
- Apoio a produtores rurais
As celebrações do aniversário do distrito acontecem neste final de semana, com a 10ª Festa da Bandeira de Cabeceira do Jiboia. No sábado (8) e domingo (9), a população vai curtir apresentações de grandes nomes da música local e nacional, com Thiago Aquino, Larissa Gomes, Boteco das Amigas, Roberto Moreno e Karine Saffer.
A lei estadual nº 4.565, de 5 de novembro de 1985, criou oficialmente o distrito, com a definição de seus limites. Contudo, a ocupação do território é anterior a essa data, com moradores que vivem as histórias da região desde que nasceram.
A prefeita Sheila Lemos destacou a importância da data que oficializou a localidade como distrito, na mesma semana em que acontece o aniversário do município. “Cabeceira do Jiboia completou no dia 5, 40 anos como distrito, e Vitória da Conquista celebra 185 anos neste domingo – 9 de novembro. É motivo de dupla comemoração, principalmente quando a gente percebe que o desenvolvimento alcançou os quatros cantos do município. Quero parabenizar Cabeceira do Jiboia e todos os conquistenses e conquistados que moram nesse distrito promissor”, disse a prefeita.
“Nós temos muito a comemorar em Cabeceira do Jiboia, um distrito que cresceu graças à coragem e resiliência das pessoas que moram aqui. Completamos 40 anos legalmente como distrito no dia 5 de novembro, mas Cabeceira do Jiboia tem muitas décadas de existência, acredito que muito mais de 100 anos. É um distrito grande, com muitos povoados, e que tem recebido assistência do poder público. Sabemos que ainda tem muito a se fazer, mas o desenvolvimento tem chegado aqui”, disse o vereador Luciano Gomes, que é morador do distrito.
Além de Luciano Gomes, Cabeceira do Jiboia tem outros dois vereadores: Márcio Mendes (Marcinho de Vivi) e Nelson Mendes (Nelson de Vivi), que são irmãos e filhos do ex-vereador Vivi Mendes.
Segundo Márcio de Vivi, seu pai [Vivi mendes] morou por mais de 50 anos no povoado da Limeira e a família permanece residindo na localidade. “Eu quero parabenizar esse distrito maravilhoso, onde eu nasci e fui criado. É uma honra ter nascido no distrito de Cabeceira do Jiboia, agradecer a esse povoado e a esse povo maravilhoso, que Deus nos abençoe!”, disse o vereador.
Histórias de antes do distrito
Com 71 anos, a lavradora Iraci de Jesus Silva mora a vida toda em Cabeceira do Jiboia, onde trabalhou, casou e criou filhos, netos e bisnetos. “Meu pai também nasceu aqui, e minha mãe veio de Caculé ainda criança. Aqui mudou muito nesse tempo. Era mais difícil ir pra Conquista, só tinha um carro por semana, se não conseguisse tinha que pedir carona”.
Durante um período, o marido de dona Iraci foi trabalhar em São Paulo, enquanto ela criava os filhos. Depois de alguns anos, o esposo retornou para Cabeceira do Jiboia e a família prosperou junto com o distrito. “A primeira casa que moramos fomos nós mesmos que construímos, de barro, quando não estávamos na lavoura. Depois viemos pra essa casa, perto de outras pessoas da família. Ficou melhor quando chegou a água encanada, a energia elétrica. A gente não precisou mais usar ferro de brasa, trazer água na cabeça de longe”.
Nesses 40 anos de oficialização do distrito, dona Iraci acompanhou o desenvolvimento de Cabeceira do Jiboia, com a chegada de água encanada e energia elétrica, o asfalto na ligação à cidade, escolas, serviços de saúde e outras melhorias. “Nunca tive vontade de mudar pra outro lugar. Gosto de passear, às vezes vou a Caetité pra ver alguns parentes, mas o meu canto é Cabeceira do Jiboia, que sei que Deus escolheu pra mim. Meus filhos saíram pra trabalhar, mas assim que ajeitaram a vida, voltaram”.
Outra moradora de longa data do distrito é Clemência de Brito, de 65 anos, que acredita que as últimas duas décadas marcaram uma grande transformação para a região. “Cabeceira do Jiboia antes era muito diferente. Antigamente não tinha tantos moradores, tinha umas 15, 20 casas mais ou menos. Era mais mato do que casa. De 20 anos pra cá, foi crescendo, chegando gente de fora, morando aqui, e foi mudando”.
Dona Clemência lembra das dificuldades que os pais enfrentavam para se deslocar até a cidade e comercializar o que produziam. “Transporte não tinha, não. No início, eu me lembro de minha mãe e meu pai irem pra cidade de jegue. Mas eles contavam que antes eles iam de pé. Eles levavam as coisas em cima dos animais pra vender e voltavam. Aí depois foi que começou a ter um caminhão levando a gente pra cidade”.
Segundo dona Clemência, o distrito foi batizado por conta de uma localidade próxima. “Aí embaixo tinha um lugar que chamava Jiboia. Como a gente morava aqui já no alto, e lá é baixo, então botaram esse nome, Cabeceira do Jiboia. E Jiboia era um lugar que tinha um rio, com muitas jiboias. Muita gente fala ‘Cabeceira da Jiboia’, mas o certo é ‘do Jiboia’”.
Lugar de permanência
Com o processo de expansão das cidades, um lugar comum é pensar que as gerações mais jovens preferem sair do campo. Entretanto, a zona rural tem atraído muitas pessoas, entre aqueles que buscam um ambiente mais calmo e silencioso em relação à rotina acelerada dos centros urbanos.
Um desses casos é o da manicure Shirley Santos, de 43 anos, que se mudou da zona urbana de Vitória da Conquista para Cabeceira do Jiboia há três anos. “Eu já conhecia a região há muitos anos, mas vim morar aqui há pouco tempo, em busca de uma melhor qualidade de vida. Tem sido bem melhor, uma vida com paz, mais tranquila, produtiva, porque aqui na roça tudo a gente sabe de onde vem os alimentos, a qualidade de comer coisas mais saudáveis. Também tem o sossego de não ter tanto barulho de carro”.
- Shirley
- Josafá
Mãe de um rapaz de 21 anos e de uma moça de 17 anos, Shirley acredita que hoje os jovens têm mais condições e estímulos para permanecerem na zona rural. Em se tratando de zona rural, pelo menos aqui nessa região, os jovens já têm tudo que eles precisam. Transporte, escola, quadra, internet. Então você vai ver muitos jovens aqui nessa região. E quem está em Conquista e vem pra cá, quando chega aqui, não quer voltar mais. Eu tive essa experiência. Trouxe meus dois filhos e pensei que eles não iam se adaptar, e hoje, se você falar ‘Bora embora pra Conquista’, eles não querem mais. A região é muito boa”.
Já o comerciante Josafá Braga, 62, chegou ao distrito há 22 anos, vindo de Ibicuí. Dono de um mercado na localidade, também não se vê morando em outro lugar. “Um amigo me trouxe pra conhecer o lugar, acabei gostando e já comecei o comércio. Desde que cheguei, cresceu muito a população, melhorou a questão da estrada, dos serviços. O movimento aqui é ótimo, não tenho do que reclamar”.
Nesses 40 anos como distrito de Vitória da Conquista, Cabeceira do Jiboia viu sua população crescer e melhorar as condições de vida, mas sem perder a identidade e o orgulho que as mulheres e os homens do campo sentem de sua terra. São vidas e histórias abarcadas pela imensidão do território de Conquista.






































