Alunos da Uesb, professores e outros membros da comunidade contemplam o projeto “Foto (grafias)”

Com brilho nos olhos e sorriso largo nos lábios, o pedreiro Gessi Viana, 74 anos, adentrou o foyer do Teatro Glauber Rocha, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), na noite desta terça-feira (17). Orgulhoso, vê sua história de vida contada pelos alunos do curso de Pedagogia através de lentes fotográficas.

Seu Gessi, cujo desejo é “aprender a ler e escrever, conhecer as coisas, continuar com vontade e não desanimar”, é um dos homenageados pela exposição “ Educação tecendo sentidos”. A mostra é resultado do trabalho de campo desenvolvido por meio do projeto “Foto (grafias): processos de aprendizagem da leitura e da escrita de pessoas jovens, adultas e idosas”, realizada pelos alunos do 5º semestre de Pedagogia.

Seu Gessi, um dos homenageados, e a professora Gicélia Cotrim: “Quero aprender a ler e a escrever, conhecer as coisas”

“Trata-se de um projeto que tem ênfase nas práticas educativas. Durante o semestre, os estudantes do curso têm oportunidade de estar nas salas de aulas e conhecer o dia a dia, as lutas e desafios das pessoas que estudam na modalidade Educação de Jovens e Adultos, na EJA. Isso traz impactos positivos na formação desses futuros profissionais”, explicou o professor do curso de Pedagogia, José Jackson Reis, um dos coordenadores da ação.

Essa é a terceira edição do projeto, que conta com a parceria da Secretaria Municipal de Educação. Há 3900 alunos na EJA, matriculados em 32 escolas da Rede Municipal de Ensino. “Entendemos a importância das parcerias para que ocorram transformações por meio da educação. Em atividades como essa, podemos perceber os frutos gerados através dessas parcerias”, declarou a coordenadora geral da Secretaria Municipal de Educação, Dilvani Chagas.

O cabeleireiro Pedro de Oliveira, 44 anos, admira o livro que conta sua história

O projeto, que foi realizado junto aos alunos das escolas municipais Lícia Pedral e Helena Cristália, também contou com a produção de livros sobre as trajetórias dos estudantes homenageados. Entre eles o cabeleireiro Pedro de Oliveira, 44 anos. “O livro se chama ‘Sonhos de Pedro ao voltar a estudar’. Estou feliz com ele. Achei bonito e realmente fala a verdade. Tenho muitos sonhos e o maior deles é dar uma vida mais emancipada para meus filhos”.

“A obra que homenageia Pedro é diferente das outras, pois apresenta também as versões em braile e audiodescrição”, explica Luzia Bittencourt, aluna de Pedagogia. Mesmo cega, ela teve a oportunidade de participar de todas as atividades. “Graças a Luzia, a sua experiência e ao desejo de estar incluída, é que esta exposição também conta com elementos tácteis e textos em braile, pois todos devem ter acesso a arte”, lembrou a colega Cristiane Brige.

Visitando a exposição, o vice-presidente da Associação Conquistense de Integração do Deficiente (Acide) Fernando Couto achou a mostra interessante. “Os nossos olhos são as mãos e quando conseguimos ler com as nossas mãos elementos de uma exposição, nos sentimos incluídos e valorizados”, declarou. Fernando também lembrou que a universidade precisa cada vez mais abrir as suas portas para a diversidade.

Além da exposição, os visitantes, inclusive alunos da EJA e seus familiares, lotaram o auditório do Teatro Glauber Rocha durante o seminário “Fotografia: processo da leitura e da escrita de pessoas jovens, adultas e idosas”.

A mostra, que conta com visitas guiadas, pode ser apreciada até esta quinta-feira (19).